O Banco Central explicou, na última semana, por que se prepara para repetir a dose de alta de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros básico em maio, a mesma magnitude vista na semana passada e que surpreendeu boa parte dos analistas de mercado: está claramente preocupado com o comportamento dos preços - mais do que com o ritmo da atividade. Assim, a Selic pode chegar a 3,50% ao ano, uma vez que a autoridade monetária teme perder sua meta de inflação para 2021 (de 3,75%) e acabar por desancorar as expectativas para 2022, que ainda estão em linha com o alvo perseguido pela instituição.
A autoridade monetária manteve estimativas apresentadas no comunicado que se seguiu à decisão da semana passada para o IPCA deste ano (5%) e do próximo (3,50%), mas as previsões para os preços administrados, que só aumentam com a autorização do governo - como energia elétrica, por exemplo - dispararam de 5,1% para 9,5% para este ano, e subiram de 3,0% para 4,4% para 2022. O impacto produzido por um novo aumento de 0,75 ponto deixará o Brasil menos vulnerável a esse cenário, na percepção do BC. Com isso, a taxa que passou de 2% para 2,75% ao ano, deve chegar a 3,50% no início de maio.
Período desafiador. Mais uma vez, o colegiado manteve o alerta sobre a trajetória fiscal do país, apesar de elogiar os esforços para a aprovação da PEC Emergencial, que autorizou uma nova rodada de auxílio com contrapartidas fiscais, neste mês. Além da preocupação com a inflação interna, o BC salientou que países emergentes, como o Brasil, poderão passar por um período "desafiador" por causa de uma possível reprecificação dos preços dos ativos internacionais. A cúpula da autoridade monetária citou também os impactos da reflação internacional, que é uma alta dos preços típica de momentos que se seguem a recessões e que têm base no aumento da demanda.
Embora um ciclo mais pesado de alta dos juros possa comprometer o desempenho da atividade econômica, o Copom projeta que um novo tombo na economia causado pelo recrudescimento da pandemia será menos profundo do que o visto no ano passado, quando o PIB encolheu 4,1%. Na realidade, o BC aposta em uma recuperação forte ao longo do segundo semestre de 2021 também tendo em mente que a vacinação no Brasil será abrangente.
"Contudo, os últimos dados disponíveis ainda não contemplam os possíveis efeitos do recente e agudo aumento no número de casos de covid-19 e, assim, há bastante incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia no primeiro e segundo trimestres deste ano", salientou a ata.
Para o diretor do ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, o BC claramente quis transmitir uma mensagem ainda mais dura na ata do que no comunicado da semana passada. Em especial, ele destacou a observação feita pelo Copom para as mudanças no cenário externo. Já Fábio Susteras, economista e sócio da SP CAP, enfatizou a preocupação da instituição sobre a reflação e seu impacto sobre as commodities. No Brasil, conforme disse, esse aumento se traduz de forma mais enfática nos preços dos combustíveis.
Fonte: Fenabrave