Nos últimos anos o Brasil tem passado por momentos difíceis na economia. Existem diversos motivos para isso, desde a condução de políticas domésticas a fatores externos, como aumento no preço do petróleo, guerra na Ucrânia, entre outros eventos globais.
Tudo isso gera consequências para a população em geral. E quem acaba pagando a conta mais alta são os menos favorecidos, que passam ainda mais dificuldades em sua situação financeira.
Outro fator bem agravante, e que ainda não superamos completamente, é a pandemia de Covid-19. Se a situação já não estava boa em meados de 2020, as coisas passaram a piorar nos anos seguintes.
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), centenas de produtos e serviços tiveram uma grande alta de preços nos últimos dois anos. Fazer a compra em um supermercado, por exemplo, ficou 31,5% mais caro com o aumento de frutas, legumes e, principalmente carnes (que, isoladamente, aumentaram mais de 40% os preços nesse período).
Outras contas também ficaram mais caras, ainda segundo o levantamento. A conta de luz ficou até 33% mais cara, enquanto a gasolina já custa 44% a mais comparada a dois anos atrás.
Bens de alto valor, infelizmente, também passaram por esta elevação de preços. Comprar um carro zero km, atualmente, é 24% mais caro do que era antes da pandemia. E mesmo quem busca por um seminovo também será afetado por esta alta, já que eles estão 23% mais caros.
Diante de todo esse cenário, fica difícil olhar com otimismo para frente. Todas essas variáveis impactam bastante em nossas vidas porque, por mais que o salário de muitas pessoas esteja atrelado à inflação, seu percentual de correção anual é bem inferior a todos esses aumentos.
Com isso, nosso poder de compra foi amplamente comprometido em praticamente todos os setores.
Mas, como lidar com essa situação e reverter o jogo? Trata-se de um processo, que exige mudança de comportamentos e criação de novos hábitos, sempre pensando no melhor planejamento financeiro possível.
A seguir, traremos algumas dicas para que você possa lidar da melhor forma com o aumento dos preços.
Comece o quanto antes o seu planejamento financeiro
O ritmo da economia pode não seguir conforme o esperado. Por mais que seja importante ficar atento aos eventos que ocorrem em todo o mundo e, principalmente, no nosso país, o fato é que muitos brasileiros ainda têm dificuldades de lidar com o dinheiro.
Uma pesquisa realizada pela empresa de educação financeira Leve revelou que mais de 52% dos brasileiros não conseguem se organizar financeiramente para atingir metas de médio e longo prazo. Embora muitos citem o baixo orçamento como o principal entrave, mesmo entre as pessoas que ganham um pouco a mais, o planejamento financeiro acaba sendo uma barreira.
Isso acaba se tornando uma barreira adicional para que o brasileiro possa se organizar. Em momentos difíceis, essa necessidade se torna ainda mais latente e, para que não seja mais duramente impactado por conta de situações externas, ter um bom planejamento ganha uma importância ainda maior.
Felizmente, é possível criar hoje mesmo o seu planejamento financeiro, sem a necessidade de intermediários ou de alguma plataforma paga.
Comece o quanto antes a traçar o seu planejamento, para não gastar ainda mais e, lá na frente, ver-se frustrado porque deixou de aproveitar uma boa oportunidade.
Confira nossas dicas de planejamento financeiro a seguir.
Saiba quanto ganha e quanto gasta
A primeira coisa que você deve fazer é saber o quanto ganha e o quanto gasta mensalmente. Pode parecer uma dica simplória, mas o simples fato de acompanhar todas as suas movimentações financeiras pode dar um bom panorama da sua situação.
É possível contar com uma planilha, que pode ser utilizada de graça (como Google Planilhas ou Excel, por exemplo), ou até mesmo um aplicativo especializado em finanças pessoais, em que você autoriza o acesso às suas contas corrente e faturas de cartão de crédito para que possa ter controle de seus gastos.
De início, até mesmo o bom e velho caderninho pode cumprir essa importante função. A partir do momento que se sabe o quanto se gasta mensalmente, você consegue identificar um padrão, se programar melhor e, assim, traçar planos de ação mais efetivos para as suas finanças.
Utilize uma planilha de controle
Por mais que você recorra a apps de finanças pessoais, ter uma planilha para controle ainda tem a sua importância. Isso porque ela te dá a autonomia de criar um planejamento da sua forma e controlar os seus gastos.
Não precisa ser o gênio do Excel para ter uma planilha financeira - aliás, existem outros apps e programas para isso, como Google Planilhas e Números (para quem utiliza iOS), que também são gratuitos.
Com a integração entre computador e celular, fica mais fácil não somente consultar, mas criar o hábito de mexer e atualizar sua planilha.
Você pode baixar modelos prontos na internet que ajudam a controlar suas finanças ou até mesmo criar uma do zero, bem simples, listando apenas os seus gastos e o valor que ganha mensalmente. Neste caso, você pode separar os meses por abas, para que consiga planejar a curto, médio e longo prazo como utilizar o seu dinheiro da melhor forma.
É possível separar seus gastos em:
Gastos correntes: que são os gastos obrigatórios todos os meses, como pagamento de aluguel (caso não tenha casa própria ou apartamento), água, luz, prestação do carro, gás etc.
Gastos variáveis: são os gastos que não são ‘obrigatórios’ mas, ainda assim, fazem parte do nosso orçamento mensal, como valor de supermercado (que pode variar de um mês para o outro), TV a cabo, internet, assinaturas de serviços etc.
Caso utilize o cartão de crédito, o recomendado é distinguir todos os valores em sua planilha. Isso porque é muito fácil perder o controle de seus gastos com o cartão, já que muitas vezes as pessoas olham apenas o valor da fatura.
Mais importante do que manter o pagamento da fatura em dia é entender o que compõe esses gastos. Se tem o costume de parcelar compras grandes, por exemplo, mencione em sua planilha, porque isso também afeta o seu orçamento.
Separe seus gastos por categorias
Listar todos os seus gastos é bem importante em busca de entender como estabelecer um plano de ação para diminuir um custo, cortar aquele pequeno gasto, enfim, fazer qualquer tipo de ajuste para que sobre um bom dinheiro no fim do mês.
Você pode começar de maneira simples, listando primeiramente os custos fixos, que são os gastos que teremos que pagar mês a mês certinho. São gastos como conta de água, luz, aluguel (a não ser que seja proprietário do seu imóvel), condomínio, alimentação e internet.
Depois disso, inclua as despesas extras. Se você faz o acompanhamento dos seus gastos há algum tempo, tem uma ideia do que precisaria cortar para atingir seus objetivos.
Despesas extras são aquelas que não são obrigatórias, mas podem comprometer nossos rendimentos mensais. São gastos como idas ao shopping, baladas, entretenimento com os amigos, pequenas compras do dia a dia ou até mesmo o café na padaria antes do trabalho.
Essa pequena separação inicial de despesas extras e obrigatórias já ajuda bastante para que você identifique melhor cada categoria. Vamos explicar como funciona a seguir.
Estabeleça o seu percentual para cada categoria
Após determinar os gastos obrigatórios e extras, o próximo passo é fazer uma separação por categorias mais precisas. A seguir, vamos mostrar quais são as principais, e quanto dos seus rendimentos mensais você deveria se dedicar a cada um deles.
Moradia: o ideal é reservar até 30% dos seus rendimentos para essa finalidade, que inclui gastos com aluguel, condomínio, IPTU, entre outros.
Supermercado: não se empolgue tanto quando for ao supermercado: o ideal é que esse tipo de gasto não ultrapasse 20% dos seus rendimentos.
TV, internet e telefone: quem trabalha em home office, provavelmente irá precisar de uma conexão à internet de boa qualidade. Só tome cuidado com a empolgação. Faça com que a junção de TV, internet e telefone não ultrapasse 10% dos seus rendimentos.
Saúde e beleza: academia, idas ao cabeleireiro, skin care e gastos com maquiagem não podem ultrapassar 10% dos seus rendimentos.
Transporte: dedique, no máximo, 10% do seu dinheiro para gastos com combustível, transporte público ou com aplicativos de transporte.
Lazer: até 10% dos gastos para idas ao cinema, shopping, pequenas compras do dia a dia, enfim, gastos que você tem para curtir os fins de semana (porque ninguém é de ferro!).
Bares e restaurantes: também, no máximo, 10% para esses gastos.
Perceba que a soma de todos esses gastos chega a 100%. Faça essa conta excluindo os gastos que precisaria para a poupança. Para começar, você pode separar 10% do seu salário para essa finalidade. Mas, se tiver muita dificuldade para guardar esse percentual, comece com pouco.
O importante é que, com o hábito de poupar, você vá aumentando o valor que deveria guardar mensalmente, para atingir seus objetivos.
Mas, e se eu tiver contas para pagar, como devo fazer? Vamos explicar a seguir.
Pague todas as dívidas
É muito difícil pensar em guardar dinheiro quando se tem muitas contas para pagar, não é mesmo?
Por conta disso, é importante priorizar a quitação de todas as suas dívidas antes de dar início à jornada de juntar dinheiro. Afinal, manter o nome limpo é extremamente importante, para que possa ter acesso a crédito quando precisar.
Se você possui muitas dívidas atrasadas, a melhor forma de lidar com o problema é negociando uma a uma. Se o volume for muito grande, priorize a dívida que tenha maior incidência de juros. Você pode conversar diretamente com a instituição ou, melhor ainda, aproveitar os feirões de renegociação que acontecem periodicamente: a vantagem é que, pelos feirões, você pode conseguir ótimas oportunidades de pagamento, reduzindo drasticamente os juros da dívida.
Especialistas em finanças pessoais recomendam priorizar a dívida por um simples cálculo: o juros que se paga pelo atraso costuma ser bem maior que os rendimentos que se tem ao guardar dinheiro. Portanto, deixe o caminho ‘livre’ para que você possa poupar.
Vale lembrar que, ao começar a pagar por uma dívida, você já fica com o nome limpo. Portanto, organize suas finanças, faça um acordo que facilite o pagamento e organize seus rendimentos aos poucos, para que você vá se ajustando até efetivamente conseguir poupar dinheiro em seu benefício.
Corte gastos supérfluos
Com a sua planilha criada, fica mais fácil saber o que está comprometendo mais do seu orçamento. Caso tenha necessidade de cortar gastos, dê uma boa olhada em seus gastos variáveis. Muitos deles podem ser supérfluos.
Para que consiga cortar algum tipo de gasto, você precisa estar preparado para mudança de hábito. Por exemplo, se costuma tomar o seu cafezinho na padaria quando vai ao trabalho, que tal comprar as coisas para fazer e tomar em casa? Vale o mesmo para as demais refeições: opte por marmitas, em vez de sair para comer em restaurantes em dias de semana. E, se precisar cortar ainda mais, diminua os gastos de fim de semana: em vez de pedir pizza todas as sextas, que tal a cada 15 dias?
Entenda que essas mudanças devem ser feitas de forma sutil. Por mais emergencial que seja a situação, é preciso tomar cuidado com qualquer mudança brusca. Além de gerar mais frustração, pode não trazer o resultado esperado. Ou seja, você pode até cortar tudo de uma só vez. Porém, isso pode fazer falta e, quando você tiver algum tipo de deslize, pode voltar a gastar tudo de novo - ou até mais, principalmente se tiver um aumento de renda.
Portanto, converse com todas as pessoas de sua família e criem, em conjunto, uma nova forma de lidar com os seus gastos. Se a TV a cabo é importante para os filhos, por exemplo, não vale a pena reduzir o pacote em vez de cortar de uma vez? Vale o mesmo para serviços de streaming, por exemplo, ou até mesmo o pacote de internet.
Entenda qual a melhor forma de reduzir os custos, sem que se torne um exercício sofrido para as pessoas envolvidas.
Outra forma de lidar com isso é entender o que está impactando mais o orçamento e até mesmo as diferenças de valores nos últimos meses e anos. Por exemplo, se os legumes estão mais caros, e você e sua família combinaram a importância de reduzir seu consumo, não esqueça de anotar esse tipo de economia. Vale lembrar que os serviços também aumentaram os preços: está mais caro sair para lavar o carro? Por que não se organizar para reduzir a frequência ou até mesmo lavar por conta própria, em casa?
O importante é que as reduções sejam parte de um combinado. Claro que você e sua família podem ter urgência para lidar com alguns cortes. Porém, se apoiem e vejam a melhor forma de fazer essa redução, para que não gere nenhum mal-estar.
Faça seu dinheiro ‘sobrar’ no fim do mês
Com o corte em seus gastos, espera-se que sobre mais dinheiro no fim do mês. Por mais que sobre um valor pequeno, vale a pena planejar uma forma de utilizá-lo.
Para isso, vale a pena abrir uma conta apartada de sua conta corrente. Existem bancos digitais com rendimento de mais de 100% acima do CDI, com rentabilidade maior que a poupança, por exemplo.
Se quiser, pode adotar uma estratégia ainda mais efetiva para guardar dinheiro. Determine um valor para transferir automaticamente para essa conta, como se fosse uma ‘dívida’. Dessa forma, você vai se sentir forçado a guardar dinheiro e, assim, atingir seus objetivos.
Mas, antes mesmo de pensar em gastar ou aplicar em algum tipo de investimento, é importante preparar a sua reserva de emergência.
Dê início à sua reserva de emergência
Todos os especialistas em finanças pessoais recomendam às pessoas manter a sua reserva de emergência. Trata-se de um dinheiro que deve ficar apartado de sua conta corrente.
Em momentos em que o aumento dos preços se torna cada vez mais nocivo, ter uma reserva de emergência é crucial, até mesmo para poder lidar de melhor forma com alguns imprevistos que fogem do nosso controle.
A reserva de emergência geralmente é composta por seis vezes ou mais o seu salário mensal. Por exemplo, se a sua família tem à disposição em torno de R$ 10 mil por mês, uma boa reserva de emergência deve ser de pelo menos R$ 60 mil.
Quanto mais você conseguir guardar como sua reserva, mais seguros você e sua família ficarão diante de qualquer tipo de adversidade, como perda de renda, desemprego ou situações de doença grave na família. Vale lembrar que o dinheiro de sua reserva deve ser mantido em uma conta de fácil resgate, afinal, o valor serve para lidar com imprevistos que fogem do nosso planejamento.
Portanto, assim que conseguir guardar dinheiro mensalmente, priorize a sua reserva de emergência antes de qualquer tipo de consumo ou aplicação. Com segurança, você se sentirá mais confortável para utilizar o seu dinheiro de forma mais inteligente.
Por que guardar dinheiro?
Quando se cria o hábito de poupar, se tem uma série de benefícios.
Um dos principais é estar mais preparado diante de adversidades. Pegue a pandemia de Covid-19, por exemplo, em que milhões de pessoas foram afetadas com redução salarial ou perda do emprego. Quem conseguiu preparar suas reservas muito provavelmente conseguiu lidar com esse período sem ter que comprometer seus rendimentos mensais.
O hábito de poupar leva a uma forma mais inteligente de lidar com o dinheiro no dia a dia. Você consegue tomar decisões melhores e evita cair na armadilha das compras por impulso - algo que afeta mais de 40% da população brasileira, segundo estudo do SPC Brasil.
Especialistas em educação financeira recomendam começar esse hábito aos poucos. Assim, ao perceber os benefícios que isso traz para o seu bem-estar, você pode juntar mais e mais, em busca de realizar seus sonhos.
Um estudo realizado pelo SPC, chamado Indicador de Bem-Estar Financeiro, identificou que cerca de 60% dos brasileiros terminam o mês sem sobras de dinheiro. Por conta disso, boa parte dos entrevistados da pesquisa se sentem frustrados e dizem não aproveitar a vida como gostariam por conta da má administração de seus rendimentos.
Além disso, os fatores externos têm um peso muito grande no nosso orçamento. Quando se tem uma boa reserva ou um dinheiro guardado, você pode mantê-lo como reserva, mas tome cuidado: só utilize se realmente for necessário.
As elevações de preços são consequências de algumas variáveis que, quando bem aproveitadas, podem gerar benefícios. Por exemplo, em um momento em que a taxa de juros está elevada, aplicar o seu dinheiro na renda fixa, como Tesouro Direto, CDIs e letras de crédito, podem dar uma boa rentabilidade.
É importante dar os primeiros passos em investimentos e, principalmente, em educação financeira, para que você possa tomar melhores decisões no seu dia a dia. Você não precisa fazer um curso pago para isso. Existem diversos conteúdos gratuitos disponibilizados em portais de credibilidade, como Sebrae e B3, por exemplo. Você também pode seguir influenciadores digitais, mas fique atento: não confie em poucas fontes específicas de informação.
Assim como as aplicações, é importante diversificar suas fontes e aplicar o que considera o mais adequado para a sua realidade. Ter o hábito de ler e acompanhar o noticiário econômico da imprensa também pode ajudar a se precaver diante do aumento de preços.
Para mais dicas de finanças pessoais, acompanhe o blog da Embracon, para receber conteúdo de qualidade em sua caixa de entrada.