Passos importantes na hora de empreender

12 de abr. de 202211 minutos de leitura
Passos importantes na hora de empreender

Para muitas pessoas, empreender significa um sonho a ser atingido. Afinal, quem não gostaria de ser o dono de seu próprio negócio, criar as regras do jogo e prosperar com uma ideia em mente, por mais simples que pareça? 

A verdade é que o brasileiro costuma se destacar quando o assunto é empreendedorismo. Uma pesquisa realizada pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor) classificou o Brasil como o 7º país com mais empreendedores em todo o mundo. Ao todo, mais de 14 milhões de pessoas, ou 10% dos adultos do país, têm algum tipo de empreendimento com mais de 3,5 anos de operação. 

O tempo para o empreendimento é uma métrica bem importante. De acordo com especialistas no assunto, um período de três anos e meio é sinal de que as pessoas conseguiram sobreviver a tempos difíceis, ainda mais após o turbulento período da pandemia de Covid-19, que afetou milhares de negócios em todo o país por conta da diminuição da renda e, consequentemente, do consumo, além do isolamento social, que fez com que as pessoas ficassem mais tempo em casa. 

Um estudo mais aprofundado, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que mais de 70% das empresas fundadas no Brasil fecham as portas após 10 anos de atividade.  

E, quando você diminui esse período, a taxa tende a aumentar: 8 entre 10 empresas abertas não conseguem sobreviver mesmo ao primeiro ano, seja por falta de lucro, caixa ou sustentação do negócio. 

A grande verdade é que, para muitas pessoas, o empreendedorismo é a única saída diante do alto índice de desemprego que tem assolado o país nos últimos anos. Com índices acima de 11%, a falta de emprego leva as pessoas a buscarem alternativas de renda. Enquanto alguns recorrem para as possibilidades da economia compartilhada, atuando como motoristas de aplicativo de carona ou entregadores em plataformas como iFood e Rappi, outros tentam pilotar seu próprio negócio. 

Inclusive, muitas pessoas empreendem e trabalham no mercado formal ao mesmo tempo. Um estudo recente feito pelo IBGE mostrou que a renda média do trabalho recuou 8,8% de 2021 para 2022 - reflexo da alta inflação, que diminui o poder de compra do real e atingiu em cheio setores essenciais da economia, com altas de mais de 20% no preço de alimentos que vão do café a legumes. 

Todo esse cenário potencializa a vontade de fazer novos negócios prosperarem. Mas, por mais que o brasileiro seja visto como criativo, o ato de empreender exige disciplina, organização e até mesmo sorte em algumas etapas.  

A verdade é que muitos pecam em aspectos básicos na hora de seguir adiante com um empreendimento. Com o passo a passo que iremos apresentar, você poderá planejar com mais cautela e aumentar as chances de prosperar com o seu negócio. 

Faça um plano de negócios 

Muitos especialistas em finanças pessoais insistem na importância de se ter um plano de negócios. Por mais simples que possa parecer o seu empreendimento, esse documento tem mais importância para o empreendedor do que para os possíveis investidores. 

Um bom plano de negócios permite saber o que você deseja montar, trazendo o plano estratégico, uma visão de principais gastos financeiros e até mesmo uma visão de mercado. 

Existem diversos modelos prontos na internet que permitem dar um bom início na idealização do seu negócio. Seja como for, é importante que o seu plano traga: 

  • Descrição do seu negócio: que é a razão da sua empresa existir. Digamos que você queira abrir uma loja virtual de calçados. Por que as pessoas iriam se sentir atraídas em comprar na sua loja? Você pode criar uma descrição que gere um diferencial, como “[Nome da marca] tem objetivo de oferecer uma ampla oferta de calçados para os estilos casual e esporte fino”. Isso dá clareza e foco para o seu negócio, permitindo posteriormente investir no fortalecimento da sua marca, por exemplo. 

  • Estabeleça os objetivos: todo empreendimento precisa de um motivo para sua existência, por mais simples que pareça. Determine de início onde deseja chegar, por mais ambicioso que seja.  

  • Modelo de negócio: é aqui que entram detalhes importantes, como a forma com que a empresa atua, como ela pretende gerar receita, quais serão os principais custos operacionais e de que forma vai lucrar. 

  • Infraestrutura: outro ponto importante é listar o que seria necessário para seu negócio prosperar. Ainda utilizando o exemplo da loja virtual de tênis, a infraestrutura poderia ser um local para armazenar os produtos, hospedagem na internet para o site de e-commerce, e por aí vai. 

Com todas essas informações, você pode utilizar uma planilha ou até mesmo escrever em um papel o seu plano de negócios, para seguir adiante com o sonho de empreender. 

Observe o cenário com uma pesquisa de mercado 

Veja o que seus concorrentes (ou futuros concorrentes) estão fazendo. Mas, não pare por aí: converse com as pessoas que costumam comprar produtos como o que você deseja vender e busque entender qual é a real necessidade desses consumidores. 

Ao endereçar essas necessidades, você pode ser mais assertivo no direcionamento do seu negócio. E, a melhor forma de chegar a isso é entender as necessidades dos consumidores. 

Uma boa pesquisa de mercado busca entender o que as pessoas realmente estão buscando dentro do segmento em que você pretende atuar.  

Vale a pena documentar a sua pesquisa, que deve conter: 

  • Tendências de mercado, ou seja, quais os possíveis caminhos para o futuro dentro do negócio em que pretende atuar. No caso da loja virtual de tênis, por exemplo, uma tendência atual é a compra por meio das redes sociais, principalmente Instagram, que costuma ser bem acessada por pessoas interessadas em moda. Mas, você pode explorar além disso, com pesquisas de mercado publicadas na internet ou notícias sobre o setor, para manter-se antenado. 

  • Performance dos produtos: qual a fatia de mercado que ele representa? Isso dá uma dimensão do quanto você pode faturar com o seu negócio

  • Estudo de concorrência: liste os diferenciais de seus concorrentes e busque entender por que as pessoas os consideram em sua jornada de compra 

  • Precificação: outro fator importante, para que você consiga operacionalizar seu negócio sem sair no prejuízo. 

Resumidamente, sua pesquisa pode ser dividida em primária, em que você mesmo fica responsável pela coleta de dados, com entrevistas ou até pesquisas realizadas por si próprio. A maioria das informações, porém, está disponível na internet, com pesquisas realizadas, notícias na imprensa etc: elas compõem a sua pesquisa secundária, que podem trazer insights valiosos para a construção do seu empreendimento. 

Estude bastante o mercado em que vai atuar 

Ter bastante conhecimento do mercado em que vai atuar é essencial para todo e qualquer empreendedor.  

Se você deseja montar uma startup, por exemplo, com foco em meios de pagamento, precisa entender como funciona a regulação, como criar parcerias com lojistas, o potencial de crescimento etc.  

Mesmo para negócios teoricamente mais simples, como abrir uma padaria na sua vila, exige um bom conhecimento da forma com que o pão será produzido, quanto precificar e as oportunidades de crescimento no ramo. 

Você não precisa ser um expert antes de montar o seu negócio. Encare isso como um processo contínuo, em que você pode dedicar algumas horas da sua semana, por exemplo, ou sempre que tiver a oportunidade. 

Existem diversos recursos para ter acesso à informação sobre o seu negócio. A imprensa especializada no assunto, por exemplo, pode ser uma boa fonte de informação, além de newsletters, sites especializados ou até mesmo o LinkedIn, rede social profissional em que empreendedores também compartilham conhecimento sobre diversos assuntos. 

Esse conhecimento é fundamental para melhores tomadas de decisão no dia a dia, seja ao lidar com fornecedores, precificar seu produto ou estabelecer um relacionamento com o cliente final, seja uma pessoa física ou uma empresa

Entenda qual o melhor momento para formalizar seu negócio 

A partir do momento que você tiver com o seu negócio rodando, precisa pensar em uma formalização. Em poucas palavras: criar um CNPJ. 

Se o seu negócio for pequeno, considere se tornar um microempreendedor individual, voltado para pessoas que projetam faturamento de até R$ 130 mil ao ano. Caso o seu negócio cresça nesse período, sem problemas: você pode fazer a transição para um regime que comporte as suas necessidades. 

A seguir, confira os portes mais comuns para empresas. 

MEI (Microempreendedor Individual) 

O MEI é voltado para pequenos negócios, em que você pode ter, no máximo, um funcionário CLT e planeja um tipo de negócio com faturamento anual de até R$ 130 mil. Por esse modelo, não é possível ter sociedade. É preciso fazer o pagamento das guias DAS, que custa R$ 60 mensais e garante contribuição para o INSS.  

Nesse modelo, você não precisa de um contador e nem tem a obrigação de emitir notas fiscais para os serviços que for realizar.

ME (Microempresa) 

Com o ME, você tem mais abrangência para o seu negócio. Você pode contar com um sócio, por exemplo, e conta com mais opções de atividades que podem ser exercidas. 

Para se enquadrar como ME, a empresa pode ter faturamento de até R$ 360 mil por ano e pode ter o regime Simples Nacional como tributação, que reúne até 8 impostos em uma única guia por mês. 

EPP (Empresa de Pequeno Porte) 

Trata-se de um tipo de empresa com faturamento maior que o ME. Isso significa que o EPP contempla empresas que faturam, em média, de R$ 360 mil a R$ 4,8 milhões por ano. 

Por conta disso, o governo federal também inclui as EPPs no regime de tributação do Simples Nacional. Para isso, é criado uma tabela que leva em consideração o faturamento anual da empresa para definir o percentual a ser pago. Quanto maior o faturamento, maior o percentual a ser pago de imposto.  

De qualquer forma, o Simples Nacional ajuda bastante os empreendedores a unificarem os impostos, reduzindo a incidência de inadimplência com a Receita. 

Contrato social 

Se você tem um ou mais sócios em seu negócio, precisará elaborar um contrato social, para definir as participações de capital de cada um. 

O contrato social também define as atividades de cada um, o modelo tributário que será seguido, o percentual de participação, entre outros detalhes importantes para que fique muito claro o papel de cada um dentro do negócio.  

Esse documento deve ser reconhecido em cartório e passar por assinatura de um advogado, para evitar qualquer tipo de problema legal com a futura partilha do negócio. É por meio do contrato social que a sua empresa poderá participar de licitações do governo e permitir a abertura da conta bancária da sua empresa. 

Crie o seu MVP 

MVP é a sigla em inglês para Mínimo Produto Viável e consiste em rodar o que seria uma primeira versão da sua empresa, para já colher feedback dos clientes.  

Para isso, o MVP não precisa ser perfeito: tratando-se de software, por exemplo, o ideal é que seja feito em menos de um mês - dependendo da complexidade, claro, porque se a sua empresa tiver muitas questões de regulação e segurança, esse período tende a aumentar. 

O principal objetivo de um MVP é viabilizar o seu negócio - por mais que ele pareça incompleto. 

Para que um MVP cumpra sua função, ele precisa gerar valor para o cliente final. Quando o fundador da então Easy Taxi, Tallis Gomes, surgiu com a ideia de facilitar o contato entre clientes e taxistas, não criou um aplicativo de primeira. Seu MVP, na verdade, foi uma planilha de Excel com o contato das cooperativas de táxi. Então, ele divulgou o número da Easy Taxi e, sempre que alguém precisava se locomover, ligava diretamente para a sua empresa - que pegava a planilha e conectava com os taxistas mais próximos. 

O importante é que o MVP surgiu para viabilizar o negócio: no caso do Easy Taxi, o empreendedor percebeu que havia grandes oportunidades de negócio, já que faturava com essa intermediação. Então, com maior receita e investimento de outros apoiadores, seu negócio escalou a ponto de o seu app ser avaliado em mais de R$ 1 bilhão, até ser vendida pela Cabify, em 2017. 

Em resumo, busque formas simples de viabilizar a sua ideia, para que as pessoas possam utilizar e compartilhar feedback. Aos poucos, você pode crescer o seu negócio: seja uma doceria no bairro em que mora (talvez utilizando a garagem de casa, por que não?) ou com uma empresa de tecnologia, que pode ser facilitada com algum tipo de ferramenta que não exige conhecimento em programação. 

Aprenda sobre gestão 

Investir em capacitação é importante para se tornar um empreendedor. Aprender sobre liderança, gestão de caixa, como obter lucro e, claro, sobre o negócio em que vai atuar podem ser determinantes para a sua jornada como empreendedor. 

Claro que você não precisa saber tudo, nem centralizar todos os assuntos do seu empreendimento - caso tenha mais de um funcionário, por exemplo, é possível delegar algumas funções.  

Na verdade, gestão tem a ver com confiança, e essa habilidade pode ser aprimorada com estudo e prática no dia a dia. 

Você não precisa se endividar para pagar um MBA ou uma escola de negócios para começar. Embora elas sejam importantes, existem diversos cursos e vídeos gratuitos que ensinam conceitos básicos para os empreendedores que estão iniciando sua jornada. 

Além de entender sobre plano de negócios e sobre sua empresa, conhecimento sobre gestão fará com que você atraia, retenha e desenvolva pessoas que ajudarão no crescimento da sua empresa.  

Por mais que você toque a operação sem ajuda no início, a gestão fará com que consiga separar o que é pessoal e profissional, além de organizar melhor seu tempo, sua agenda e até mesmo suas expectativas. 

Acerte na contratação de pessoas 

Muitos empreendedores se mantêm focados no desenvolvimento de seu negócio. E, quando prosperam, é comum que se tornem cada vez mais afastados da operação, a fim de obter maior margem de lucro e explorar outros mercados. 

Por conta disso, a contratação de pessoas pode ficar relegada a um setor de recursos humanos. Embora o RH seja estratégico para a maioria das companhias que existem, o fato é que você, como empreendedor, precisa deixar bem claro o que precisa das pessoas. 

Para isso, pelo menos no começo, é importante estar presente na contratação - nem que seja das pessoas mais importantes para a sua operação. Conforme a sua empresa atinge escala, você pode delegar essa função para outros líderes. 

O importante é que tenha um processo transparente, que seja atrativo para as pessoas mais talentosas do mercado. Seja ético e claro quanto ao processo, para não gerar ansiedade nos interessados.  

Monte um fluxo de caixa 

Como já dissemos no início do texto, a grande maioria dos empreendimentos no Brasil chega à falência por falta do fluxo de caixa, que nada mais é do que ter dinheiro para tocar a operação. 

Por mais simples que o seu negócio pareça, ter fluxo de caixa é fundamental para que consiga rodar. É comum que as pessoas invistam um valor significativo para o início do negócio. Mas, se ele não for sustentável, com o passar do tempo o lucro não chega com a rapidez que gostaria. 

A melhor forma de lidar com isso é ter previsibilidade. Uma planilha é essencial para isso. Com o dinheiro do fluxo de caixa, você pode prever o quanto terá que investir na operação e calcular o VPL (Valor Presente Líquido), que revela se o retorno para o seu investimento é ou não sustentável. 

Além de comparar o investimento com o retorno esperado, o VPL mostra se vale mais a pena aplicar o dinheiro no negócio ou investir o dinheiro em um produto financeiro, como o Tesouro Direto, por exemplo, que possui previsibilidade de ganhos. 

Com o cálculo, o VPL tem três resultados possíveis: 

  • VPL positivo: quando o investimento é viável e pode trazer ganhos ou até mesmo valorizar a sua empresa; 

  • VPL negativo: você vai sair no prejuízo, logo, não compensa investir; 

  • VPL neutro: quando o cálculo chega a zero, ou seja, o investimento é equilibrado. Não necessariamente significa que não valha a pena. Porém, a projeção de lucro tende a ser mais demorada do que você imaginaria. 

Para entender como o VPL funciona, digamos que você tenha investido R$ 40 mil para conseguir ter a sua padaria.  

Se esse investimento gerou um lucro de R$ 100 mil em um período de cinco meses, significa que você tem um retorno bruto de R$ 60 mil nesse período.  

Mas, e se você tivesse investido esse dinheiro?  

Vamos pegar como exemplo um investimento em renda fixa que tenha 10% de juros ao mês. Se você tivesse deixado esse dinheiro aplicado, ao fim de 5 meses teria o valor de R$ 64.420,40, ou seja, maior do que se tivesse aplicado no negócio.  

Logo, o investimento não se apresenta como viável, porque vale mais a pena deixá-lo parado em algum investimento por esse período do que aplicar no seu negócio. 

Por isso, mantenha sempre as contas em uma planilha, para ver até onde pode ir com o seu negócio. Caso perceba sua inviabilidade, não hesite em fechar a sua empresa, para não estender uma dívida que tende a ficar maior com o passar dos anos. 

Muitos empreendedores tentam mais de uma vez até que atinjam o sucesso. Com conhecimento, persistência e muito trabalho duro, você também conseguirá chegar lá!