É bem provável que você já tenha ouvido que os consórcios são ótimas opções para comprar bens de valor sem a necessidade de arcar com juros ou burocracia, que são comuns nos financiamentos bancários.
Essa modalidade de investimento é vantajosa principalmente em longo prazo. Dessa forma, pode ajudar na disciplina financeira, colaborando com a vida de quem quer ter um planejamento familiar mais organizado e atingir seus objetivos de maneira mais simples.
Entretanto, mesmo que o mercado de consórcios seja consolidado no Brasil e conte com uma boa reputação entre os consumidores, é bem recorrente o caso de pessoas mal-intencionadas que exploram sua forma de funcionamento para aplicar golpes dos mais diversos, trazendo prejuízos a pessoas de bem, que precisam lidar com as dores de cabeça decorrentes disso.
Por se tratar de um assunto tão sério, fizemos este guia completo que explica como evitar uma fraude em consórcio. Continue a leitura e saiba quais são os principais golpes que circulam na praça e o que analisar quando for fazer a contratação e durante todo o processo para não ser enganado.
Quais os golpes mais comuns em um consórcio?
Os consórcios são constituídos a partir da formação de grupos de pessoas com um interesse em comum: unir os recursos necessários para a compra de um determinado bem (como um imóvel ou um carro) ou a contratação de um serviço (pacotes de viagens, cursos, tratamentos estéticos etc.).
Conforme o decorrer do pagamento das parcelas, são realizados sorteios periódicos, que definem os contemplados. Os consorciados que tiverem mais sorte e, por consequência, contemplados primeiro via sorteio, têm acesso antecipado à carta de crédito, que possibilita a compra do bem ou a contratação do serviço desejado. As pessoas que não quiserem contar exclusivamente com a sorte podem ofertar lances, que funcionam como pagamentos antecipados do consórcio e aceleram a contemplação.
Se tudo acontecer conforme determinam as regras, e também respeitando todos os pontos acordados no contrato assinado entre o consorciado e a administradora — a responsável pela organização e condução do consórcio —, é bem pouco provável que problemas surjam. Desse modo, tudo transcorre bem até o final.
Infelizmente, é bem comum que pessoas se aproveitem para explorar os consórcios, aplicando golpes dos mais variados tipos. Claramente, ninguém quer ser vítima de uma situação como essa e, por isso, é importante conhecer as ocorrências mais comuns e estar sempre prevenido. Na sequência, listamos algumas das formas famosas de fraudes que usam os consórcios de maneira equivocada e, assim, lesam os participantes desses grupos de investimento.
Golpe do consórcio não autorizado ou inexistente
Esse tipo de golpe acontece de maneira semelhante ao da cota contemplada, mas envolve um pouco mais de elaboração por parte dos golpistas, que precisam criar empresas de fachada para anunciar consórcios que não estão autorizados ou simplesmente não existem e nunca existirão.
Para garantir a segurança e ter certeza de que o negócio é feito por uma empresa autorizada a atuar no setor de consórcios, é necessário consultar a lista de administradoras que contam com a permissão do Banco Central — que regulamenta esse setor do mercado — para formar grupos de consórcio.
Outro ponto importante é não fazer nenhum pagamento adiantado, principalmente se essa solicitação envolver alguma suposta vantagem ou sem que isso esteja previsto em contrato. Empresas sérias não realizam esse tipo de cobrança, ainda mais se ela não foi incluída no acordo entre as partes.
Golpe da carta de crédito contemplada
Muita gente não têm o tempo e a paciência necessários para fazer parte de um consórcio desde o começo e esperar a contemplação, seja por sorteio, seja por oferta de lance.
Em situações assim, existe a opção da compra de uma carta de crédito contemplada. Em um primeiro momento, não existe nenhum problema nisso, já que essa é uma opção legítima, prevista pela maioria das administradoras, que incluem os passos necessários a esse tipo de negócio no contrato.
Contudo, alguns cuidados devem ser observados com muita atenção para evitar o golpe da carta contemplada. Uma breve pesquisa na internet aponta que esse é o tipo mais comum de fraude explorado por quem quer tirar vantagem dos interessados em fazer a aquisição de um bem por meio de uma carta de crédito.
Em situações normais, a aquisição de uma carta de crédito contemplada acontece da seguinte forma: o interessado em repassar sua cota contemplada busca um interessado em adquiri-la, que é normalmente alguém que deseja usufruir dos benefícios desse instrumento financeiro sem precisar percorrer todo o caminho de consorciado, o que gera uma economia de tempo.
No entanto, essa aparente facilidade têm seus custos. É comum que o preço cobrado pela carta de crédito já contemplada seja acrescido com o chamado ágio, quantia extra que recompensa ou mesmo remunera que está vendendo sua cota. Além disso, o comprador precisa arcar com as parcelas ainda restantes, já que uma carta contemplada não significa que o consórcio foi quitado.
Qualquer processo, seja de compra, venda e transferência, precisa ser acompanhado e autorizado pela administradora do consórcio. Desse modo, o negócio se dará sem maiores problemas, satisfazendo ambas as partes.
No golpe da carta de crédito contemplada, nada do que foi descrito acima acontece de maneira efetiva, lesando a parte interessada no investimento. Essa fraude de venda de cotas de grupos de consórcio acontece por meio de anúncios em jornais e sites e até mesmo via comunicação pessoal. Não é raro que as condições apresentadas sejam vantajosas e quase sempre fora da realidade do mercado.
Após esse primeiro contato, a vítima é convencida da existência da carta, de modo que, para tê-la em mãos, deve realizar um depósito que comprove a efetivação da transferência.
Acreditando na boa fé dos vendedores, que, na maioria das vezes, apresentam supostos documentos atestando a existência e a contemplação daquela cota, o interessado faz a transferência dos valores e, em seguida, descobre que a cota não existe. Os golpistas somem com o dinheiro da vítima, cortando qualquer meio de contato.
Uma maneira de evitar essa dor de cabeça é consultar diretamente a administradora sobre a existência e a efetiva possibilidade de transferência de determinada cota. Além disso, toda a negociação deve ser registrada no papel, para que as partes estejam protegidas e cumpram o que foi acordado.
Desconfiar sempre de propostas milagrosas também evita boa parte dos problemas. Vale lembrar que a transferência de uma cota contemplada pode envolver custos extras ou parcelas ainda a serem pagas, então, qualquer oferta que fuja disso deve ser vista com muito cuidado.
Golpe do “contemplou, quitou”
Novamente vale reforçar que a contemplação não isenta o consorciado do pagamento das parcelas que ainda faltam. Caso não cumpra, os demais consorciados que não tiveram a sorte de atingir a contemplação poderão ficar sem suas cartas de crédito, já que os fundos acumulados não serão suficientes.
Por isso, outra modalidade de golpe envolve o anúncio de consórcios nos quais o consorciado contemplado tem automaticamente sua cota quitada, como forma de atrair os mais desavisados.
O segredo para não cair nesse outro tipo de golpe envolve, mais uma vez, as dicas apresentadas nos tópicos anteriores: desconfie de ofertas milagrosas, exija os contratos completos em que constem todas as informações pertinentes e consulte se a empresa que está fazendo a proposta está autorizada a funcionar pelo Banco Central.
Pontos a considerar na hora de contratar um consórcio
Diante de tantas possibilidades de golpe, é normal que quem esteja interessado em fazer parte de um consórcio se sinta inseguro sobre investir ou não seu dinheiro nessa modalidade, que costuma demandar tempo para trazer os retornos esperados. Vamos apresentar nos próximos tópicos, o que deve ser levado em consideração na hora de contratar um consórcio.
Escolha um consórcio que atenda às suas necessidades
O bom aproveitamento dos benefícios de um consórcio passa por escolher o plano perfeito, de acordo com as suas necessidades e o seu orçamento. Não faz sentido, por exemplo, investir em um carro grande se a sua família é pequena ou se as contas do mês estão sempre apertadas.
Em outro exemplo, um consórcio pode ser uma boa alternativa para quem quer comprar um imóvel, mas pode esperar um pouco, tornando dispensável a contratação de um financiamento bancário, que tem juros caríssimos.
Depois disso, vai ser preciso decidir qual deve ser o tamanho do imóvel e sua faixa de preço. Um consórcio muito barato pode não atender às suas necessidades, enquanto um muito caro pode comprometer suas finanças.
Da mesma maneira, olhar apenas o tamanho das parcelas pode ser enganoso. Assim, considerar seus objetivos é o primeiro passo na hora de contratar um consórcio. Aproveite que muitas administradoras disponibilizam materiais informativos sobre os planos e os utilizam para facilitar o encontro do plano ideal.
Analise o contrato com atenção
Você já deve ter notado que boa parte dos golpes envolvendo consórcios seriam evitados se o acordo fosse posto em um contrato, deixando claro todos os detalhes do negócio, com a previsão dos direitos e deveres de cada parte.
Um contrato correto de consórcio precisa esclarecer os dados cadastrais e as formas de contato entre ambas as partes, às normas gerais de funcionamento do grupo, as maneiras de contemplação, o valor das parcelas, os índices de reajustes previstos, as penalidades em caso de atraso ou o descumprimento do contrato e qualquer outro ponto pertinente.
Avalie o prazo e o tamanho das parcelas
Existem vários tipos de planos de consórcio, para atender públicos com capacidades financeiras diferentes. Por isso, quando for fazer a contratação, considere esse ponto, de modo que o plano escolhido caiba no seu bolso.
Você precisa saber que, quanto maior for a duração de um consórcio, menores serão as parcelas pagas mensalmente. Por isso é necessário considerar a sua situação e os seus objetivos para entender se vale a pena pagar um pouco a mais por mês e, assim, terminar o consórcio mais rápido ou contar com uma parcela que cabe no bolso, mesmo que isso represente um prazo mais alongado.
Consulte as taxas cobradas
Todo consórcio conta com a cobrança de algumas taxas, para que os serviços prestados pelas administradoras sejam remunerados. Entre as cobranças mais recorrentes, está a taxa de administração. E como a diferença entre essa cobrança em cada uma das administradoras que atuam no mercado pode ser grande, é importante pesquisar bastante antes de fechar negócio.
A taxa de administração é calculada sob a forma de um percentual do valor total do consórcio. Esse número deve estar em destaque no contrato, para simplificar a comparação entre as ofertas que o consorciado pode ter em mãos.
Mas nem sempre uma taxa menor representa um bom negócio. Sempre leve em consideração a qualidade do serviço prestado. Às vezes, vale pagar um valor maior por um serviço bem prestado, o que representa um custo-benefício maior.
Estude também qual é o peso de outras cobranças no valor a ser pago pelo consórcio. Ao contrário da taxa de administração, existem algumas taxas de cobrança opcional que não estão presentes em todos os contratos.
É o caso, por exemplo, da taxa de fundo de reserva, que é usada pelo grupo para cobrir certos imprevistos que possam comprometer a sua saúde financeira, como a inadimplência de parte dos membros. Assim como a taxa de administração, o fundo de reserva também varia de acordo com a administradora. Em alguns casos, ela sequer é cobrada. Consulte, ainda, se existe a exigência de taxa de adesão ou de um seguro.
Como identificar um consórcio confiável?
Agora que você já sabe quais são as principais modalidades de golpes, como se precaver deles e o que considerar antes de contratar um consórcio, chegou a hora de entender como saber se um consórcio é confiável. Como você pode notar, uma pesquisa cuidadosa e a atenção aos detalhes resolvem boa parte dessa dúvida.
Em primeiro lugar, saiba como avaliar uma administradora de consórcio. Como já mencionado, o Banco Central regula esse mercado e lista, em seu site, as empresas que estão autorizadas a atuar na gestão de grupos de consórcio. Se a instituição pela qual você se interessou não estiver lá, o melhor é mudar de ideia.
Para facilitar as pesquisas, faça uma lista com as empresas que atendem à sua necessidade e realize essa primeira pesquisa. Administradoras com anos de mercado e boa reputação certamente seguem o que prevê a legislação.
Depois de excluir aquelas que não passarem nesse primeiro filtro, avance na sua busca. Consulte conhecidos que já tenham feito negócio com essas empresas. Pergunte sobre a experiência como um todo, a qualidade do serviço prestado e a agilidade na resolução de problemas.
Ainda pensando em como a administradora é vista na opinião de terceiros, recorrer à internet pode ser uma boa ideia. Verifique em sites que reúnem as reclamações de consumidores, a exemplo do Reclame Aqui, como cada empresa é avaliada.
Não dê atenção apenas no volume de reclamações (já é normal que administradoras maiores e que fazem mais negócios tenham uma quantidade vasta de clientes insatisfeitos), mas também na velocidade com que esses problemas são solucionados, no nível de satisfação dos consumidores e na intenção das pessoas em voltar a fazer negócio com a empresa que foi alvo da insatisfação relatada.
Por fim, você mesmo pode fazer um teste sobre a qualidade do serviço entrando em contato com a administradora pelos canais de comunicação oferecidos, como telefone, e-mail e redes sociais. O nível do atendimento prestado é um bom indicador da confiança que a empresa transmite.
Por fim, fora o contrato, que deve ser redigido de maneira clara e objetiva, uma administradora deve fornecer todos os esclarecimentos que forem necessários para que não reste nenhuma dúvida sobre o funcionamento do consórcio, do começo ao encerramento do grupo.
Quais erros podem ser evitados
Tudo bem, próximo passo então é como você pode evitar problemas no consórcio, seja para não cair em fraudes, seja para escolher um plano de confiança, que traga o retorno esperado. Agora, vamos ver quais erros ao contratar um consórcio são mais comuns e como evitá-los.
Procurar instituições não autorizadas
Conforme destacamos ao longo do texto e reforçamos aqui, nunca entre em um consórcio organizado por qualquer empresa que não esteja autorizada. O Banco Central é o responsável por conceder a certificação e também por acompanhar a saúde financeira das administradoras, averiguando os balanços anuais das instituições.
Acreditar em sorteio garantido
Não caia na conversa de quem promete que sua cota seja contemplada por sorteio em determinado período. O quanto a sua vez de receber a carta de crédito vai demorar é uma questão que depende de sorte, do número de pessoas do grupo e da sua capacidade de oferecer lances.
Logo, é normal que haja uma demora de vários meses ou anos para que todos sejam contemplados. Se existirem promessas de contemplação, saiba que isso é um grande motivo de desconfiança.
Não avaliar taxas e os reajustes
O preço do consórcio não é composto apenas do bem que será adquirido com a carta de crédito. A esse valor são somadas algumas taxas, sendo a mais comum a de administração. Entretanto, esse detalhe passa despercebido por muitos, o que é um erro, já que prejudica as contas e atrapalha no planejamento financeiro. Por isso, confira sempre as taxas cobradas, centavo por centavo.
Outro cuidado envolvendo os valores de um consórcio diz respeito ao reajuste nas parcelas. Para fazer frente à inflação e garantir que a carta de crédito mantenha seu poder de compra, as parcelas têm seus valores corrigidos periodicamente. Os índices escolhidos variam de acordo com o bem do consórcio e devem estar indicados no contrato.
Não acompanhar o andamento do consórcio
Todo consórcio prevê a realização de assembleias, nas quais são feitos os sorteios, ofertados os lances e definidos os contemplados. Mas não é isso. Nessas reuniões, são feitos informes importantes sobre o andamento do consórcio, então, é importante acompanhar o que se passa por lá.
Não pagar as parcelas em dia
Atrasar a parcela do consórcio prejudica tanto o próprio consorciado, que fica impedido de ser contemplado, quanto o grupo, que pode ter sua saúde financeira comprometida se o nível de inadimplência for muito alto.
Estar com o nome sujo
A entrada em um consórcio é permitida mesmo que seu nome não esteja limpo. No entanto, essa restrição pode se transformar em um obstáculo no momento da contemplação. É comum que as administradoras façam análise da situação financeira do contemplado, o que impede a liberação para aqueles que estejam com o nome incluído nos serviços de proteção ao crédito.
O que fazer nos casos de cair em um golpe?
Mesmo tomando todos os cuidados do mundo, em alguns casos, o golpe acaba acontecendo, o que não é nada bom, diante de todo o transtorno (financeiro e emocional) causado por situações do tipo. Mas como lidar com esses problemas e tentar reverter, ou pelo menos minimizar, os prejuízos causados pela fraude?
Se notar que alguma coisa não está indo bem, os primeiros passos são entrar em contato com a administradora responsável e informar o ocorrido. Faça isso pelos canais de atendimento, anotando sempre o número de protocolo. Se a questão não se resolver, o estágio seguinte será acionar o Banco Central ou os órgãos de defesa do consumidor, como o PROCON.
Dependendo do tamanho do problema, vai chegar o momento em que provavelmente será preciso acionar a justiça para fazer valer seus direitos e reaver as quantias envolvidas no golpe. Com isso em mente, durante todo o processo, acumule o maior número possível de evidências por escritos, que servirão de prova de que você foi a vítima. Com isso, todo o trâmite se torna um pouco menos complicado.
A fraude em consórcio não significa que essa modalidade não é uma forma segura de investir o seu dinheiro. Se todas as recomendações forem seguidas e tudo for feito com o suporte de uma empresa de confiança, o investimento certamente vai trazer o resultado esperado e ajudará você a conquistar os objetivos que vem planejando.
Quer realizar um consórcio confiável? Faça uma simulação!