Nos últimos anos, o Brasil tem passado por algumas dificuldades quando o assunto é economia. Além da quebra de produção, isso fez com que muitas pessoas perdessem o seu emprego e procurassem novas alternativas para gerar renda, seja de forma complementar ou em busca de tirar todo o salário.
Por conta disso, o tema empreendedorismo tem sido cada vez mais comum no mercado de trabalho. Claro que é um termo de muitas nuances.
Por um lado, temos os empreendedores bem-sucedidos, que conseguem escalar seu negócio rapidamente, resolver necessidades gerais da maioria da população e até mesmo expandir o negócio internacionalmente.
Por outro, temos os empreendedores que estão na batalha para tirar um valor maior que o salário da empresa anterior ou que, por necessidade, tentam se virar com pouco dinheiro para investir nos insumos necessários na hora de realizar algum tipo de serviço ou vender produtos. De fato, esses empreendedores formam a maioria no Brasil, que lidera o ranking mundial de empreendedorismo, segundo pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM).
Três em cada 10 brasileiros adultos, de 18 a 64 anos, possuem uma empresa ou, de alguma forma, estão envolvidos na criação de um negócio. Houve um crescimento vertiginoso em pouco tempo: de acordo com a GEM, em 10 anos houve um salto de 23% de adultos empreendedores para 34,5%, sendo que metade deles possui menos de 3 anos de empresa aberta. Isso representa quase 8 pontos percentuais a mais que a China, por exemplo, que também é um país com alto índice de empreendedorismo.
Mas, se o Brasil é um país que se dedica tanto ao empreendedorismo, por que a nossa economia não está em uma situação melhor?
Claro que fatores internos e externos contam muito para que um negócio dê certo: produção nacional, força da moeda, pessoas consumindo mais… Mas, quando se analisa o cenário para os empreendedores no Brasil, existem outros percalços, como carga tributária muito pesada para quem pretende abrir empresa, a dificuldade de contratar profissionais qualificados, entre outros problemas.
O Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) realizou uma pesquisa em busca de entender o que faz com que as empresas fechem mais cedo que o previsto e constatou três problemas principais:
Falta de planejamento prévio: muitos empreendedores acabam montando o seu negócio de forma reativa, seja em busca de ter lucro mais rapidamente, e acabam confiando demais em seus ‘instintos’. Isso pode fazer com que o empreendedor deixe de analisar pontos importantes, seja no aspecto de negócio ou das finanças, na hora de tocar o negócio.
Falta de gestão empresarial: embora o empreendedorismo seja um ato de coragem, também é necessário investir em conhecimento sobre gestão para que o seu negócio dê certo. O próprio Sebrae possui cursos gratuitos de capacitação para empreendedores que podem ajudar bastante na hora de tocar o negócio. Estar disposto a aprender, a errar rápido e mudar o curso das coisas, se necessário, podem ser imprescindíveis para que o seu negócio prospere.
Falta de comportamento empreendedor: quando se fala em comportamento empreendedor, ter capacidade de boa negociação, ser inovador e conhecer bem o negócio que está tocando podem ser habilidades fundamentais. Além disso, fazer bom uso do dinheiro e saber delegar são tarefas importantes para que o empreendedor foque seu tempo no que realmente é necessário para que o negócio cresça.
Esse diagnóstico é importante para entender como o Brasil tem muito a evoluir quando o assunto é empreendedorismo.
E, em busca de esclarecer melhor esse assunto que adquire uma importância cada vez maior com o passar dos anos, vamos reunir algumas das principais dúvidas dos empreendedores.
1. Como fazer o planejamento estratégico da empresa?
Todo negócio precisa de um direcionamento. Montar o planejamento estratégico é essencial para se construir uma visão para a sua empresa. Isso ajuda a guiar as decisões que o empreendedor possa ter para que o negócio possa prosperar.
De início, um bom planejamento estratégico precisa ter as metas e os objetivos que precisam ser alcançados em determinado tempo. Para isso, é preciso conhecer bem o negócio: pesquisar com antecedência, conversar com os clientes ou consumidores, entender como é o mercado, enfim, obter o máximo de informações possíveis para montar o seu próprio planejamento.
Uma boa forma de fazer isso é utilizar um business canvas, que é um template que ajuda a direcionar o caminho que você quer seguir com a sua empresa.
2. O que é tornar o negócio escalável?
Escalabilidade é um termo cada vez mais utilizado no empreendedorismo. Significa, em poucas palavras, ter uma alta margem de lucro sem ter que aumentar demais os custos operacionais do seu negócio.
Dentre as técnicas para tornar o negócio escalável estão o marketing boca a boca, por exemplo, que faz com que as pessoas que utilizam o seu serviço ou produto recomendem naturalmente para outras pessoas, sem gerar nenhum custo adicional para o negócio. A qualidade pode ser determinante para isso, mas bons conhecimentos de marketing podem ajudar bastante, como programas de referência, boa utilização das mídias sociais e, acima de tudo, um bom serviço atrelado ao seu negócio.
3. Como determinar o regime de tributação do meu negócio?
O regime de tributação ajuda a entender a natureza, o tamanho e até mesmo o alcance do seu negócio.
Cada regime possui suas limitações e se adequa a diferentes situações. A seguir, vamos apresentar todos os regimes, para que você identifique o melhor para você.
Simples Nacional
Podem ser enquadradas nessa modalidade empresas que faturam até R$ 4,8 milhões no período de 12 meses, atingindo o maior número de empreendedores do nosso país.
Criado pela Lei Complementar 123, voltado para as micro e pequenas empresas, o Simples Nacional também abrange os microempreendedores individuais (MEI), que têm crescido substancialmente ao longo dos anos. Além do MEI, empresas de pequeno porte (EPP) e Microempresas (ME) também podem se enquadrar no Simples Nacional, que tem uma de suas principais vantagens reunir todos os tributos em uma única guia, o DAS, tornando-o menos burocráticos que as demais opções.
Para ser elegível ao Simples Nacional, é preciso seguir algumas regras, como:
Não possuir outra empresa no quadro societário: apenas pessoas físicas podem ser sócias de uma empresa do Simples Nacional;
Não ser sócia de outra empresa: o CNPJ não pode participar do capital social de outra pessoa jurídica;
Caso os sócios possuam outras empresas, a soma do faturamento de todas elas não pode ultrapassar o limite de R$ 4,8 milhões de faturamento anual;
Não ser uma sociedade por ações (S/A);
Não possuir sócios que morem no exterior;
Não possuir débitos com a Receita Federal, Estadual, Municipal e/ou Previdência;
Empresas que não possuam débitos em aberto (aqueles sem negociação ou parcelamento) com o governo.
Além disso, existe uma tabela de tipos de atividades que podem ser enquadradas no Simples Nacional. Consulte para ver se a sua atividade está elegível.
Lucro presumido
Muitos empreendedores selecionam a opção de lucro presumido como regime de tributação - principalmente se a atividade não estiver enquadrada no Simples Nacional. Nesse regime, a empresa faz apuração do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de forma simplificada. Isso ajuda bastante a diminuir a burocracia na hora das declarações.
Dessa forma, a Receita Federal encara um percentual do faturamento como lucro. Assim, não é preciso comprovar para o fisco quando houver ou não houver lucro no período de recolhimento de impostos.
Para isso, é preciso que a empresa tenha faturamento abaixo de R$ 78 milhões por ano. Existem algumas exceções de empresas que se enquadram nesse regime: bancos e empresas públicas, por exemplo, não podem operar com lucro presumido.
Lucro real
Esse tipo de regime é mais comum para grandes empresas, que operam com alta complexidade de serviços. A partir do cálculo do lucro real, elas podem ter desconto na base de cálculo de IRPJ e CSLL na hora de declarar para a Receita.
Ao considerar a escolha de tributação de lucro real, é preciso ter uma distinção muito clara das receitas e despesas da sua empresa.
4. Como separar custos, despesas e investimentos da minha empresa?
Tocar um negócio não é nada fácil. Além de se preocupar com todas as vendas de produtos e serviços, o empreendedor precisa ter uma distinção muito clara de tudo aquilo que é tido como gasto e, claro, saber o momento certo de investir no negócio.
Primeiramente, é preciso entender a diferença entre custos e despesas. Os custos são os gastos que têm relação direta com a produção ou mão-de-obra do serviço que você está entregando. Já as despesas são aqueles gastos corriqueiros com a sua empresa, mas que não estão vinculados ao seu produto ou serviço.
Vamos utilizar como exemplo uma mercearia: um exemplo de custo seria com as mercadorias necessárias para a venda; já um exemplo de despesa seria o pagamento de energia elétrica para manter o negócio funcionando.
Outra distinção que deve ser feita é com investimentos. Embora seja um gasto com qualquer outro, o investimento deve ser pensado para gerar retorno financeiro para a empresa. Ainda com o exemplo da mercearia: um bom exemplo seria a ampliação do local de trabalho. Embora isso represente um gasto relevante, tem uma boa capacidade de retorno já que, com mais espaço, é possível ampliar o portfólio de produtos, atrair mais clientes e fazer com que os consumidores habituais comprem mais, por exemplo.
Uma boa forma de criar essa distinção é separar esses gastos em uma planilha. Assim, é possível acompanhar se você está dedicando dinheiro suficiente para o investimento, ou se não está gastando demais com despesas, por exemplo, que devem ser minimizadas.
5. Como separar custos fixos e custos variáveis?
E já que mencionamos a criação de uma planilha, é importante pensar na distinção entre custos fixos e variáveis.
Os gastos fixos não mudam de acordo com o aumento ou a diminuição das vendas do seu produto ou serviço. Ainda tendo a mercearia como exemplo, pode ser a conta de energia elétrica ou aluguel do local.
Já os gastos variáveis podem mudar de acordo com o tamanho do seu negócio. Um bom exemplo é um negócio de vendas: caso você aumente a sua empresa e trabalhe com vendedores comissionados, muito provavelmente terá que aumentar o valor da comissão deles, caso o negócio se expanda.
Portanto, tenha essa distinção, para que o crescimento da receita acompanhe o aumento de custos variáveis. Isso dará maior previsibilidade de lucro para o seu negócio.
6. Capital de giro? O que é isso?
Capital de giro nada mais é que o valor necessário para que a sua empresa rode de maneira eficiente. Os custos de uma empresa estão em todos os lugares: contratação de funcionários, compra de materiais, custos, despesas, investimentos, entre outros.
O capital de giro é o valor que a sua empresa necessita para que tudo isso funcione. Em muitos negócios, os sócios injetam o capital de giro na empresa. Também é possível obter empréstimos bancários ou adquirir capital social. Porém, é preciso acompanhar os custos de toda essa operação - afinal, não adianta passar por sufoco para manter a sua empresa se não vislumbra lucro lá na frente.
7. Como atingir o ponto de equilíbrio do meu negócio?
Conhecido como break evening point, o ponto de equilíbrio é o momento exato em que os gastos de uma empresa ou empreendimento se igualam ao volume de receita.
Usando a mercearia como exemplo: para que o negócio funcione, o empreendedor teve que tirar do bolso (ou buscar investimento) para a compra dos produtos, aluguel do local, pagamento de custos e despesas, entre outros gastos. Ele atinge o ponto de equilíbrio quando toda a receita gerada pelo negócio consegue pagar os custos do negócio - ou seja, quando vendeu o volume necessário de mercadorias para pagar o valor que teve que investir para que o empreendimento funcionasse.
Resumindo, trata-se do valor da receita menos os custos variáveis da sua empresa. Portanto, acompanhe tudo o que entra e sai, para identificar o momento em que o ponto de equilíbrio pode acontecer e, assim, partir para a escala do seu negócio.
8. O que é capital social?
Quem já se deparou com o desafio de abrir um negócio muito provavelmente se deparou com o termo capital social.
O capital social é o valor que os sócios ou acionistas de uma empresa investem para a sua abertura. Este montante deve ser o suficiente para que a empresa possa dar os primeiros passos, realizar seus serviços e apresentar os primeiros resultados.
Não existe um valor mínimo ou pré-determinado para o capital social. É possível abrir uma empresa com qualquer valor, desde que ajude a cobrir os gastos iniciais para operar.
Entretanto, algumas modalidades de empresa podem exigir este valor. Quem deseja abrir empresa sem sócio, como Empresas Individuais de Responsabilidade Limitada (EIRELI), precisa seguir a diretriz de ter um capital social mínimo de 100 salários mínimos.
9. Por que é importante ter metas e objetivos da minha empresa?
Todo mundo tem um objetivo quando abre a empresa. Claro que ter dinheiro para pagar as contas de casa é um motivo plausível, mas o seu negócio precisa de uma razão para existir, crescer, prosperar.
Ter uma visão pode ajudar a sua empresa a crescer - e até mesmo levar o empreendedor a pensar alto, para que invista cada vez mais e, assim, faça com que o negócio prospere.
Uma visão, por exemplo, deve ser pensada a longo prazo como algo a ser atingido. Os objetivos nascem exatamente dessa visão, e você pode tangibilizar pensando em uma receita a atingir, ou até mesmo um lucro.
Já as metas devem ser pensadas a curto e médio prazo, como desdobramento do objetivo da sua empresa. Como dono da mercearia, digamos que o objetivo tenha sido aumentar em 5 vezes o faturamento anual em dois anos. Para isso, é preciso determinar algumas metas para chegar lá: pode ser aumentar em 30% o portfólio de produtos vendidos, por exemplo. Somente com o negócio na prática será possível identificar o que pode alavancar as suas metas e, assim, atingir os objetivos a longo prazo.
O importante ao definir metas e objetivos é ter uma data final. Por mais que pareçam sonhos distantes, eles ajudam a nortear o caminho que a sua empresa irá seguir.
10. Como fazer um bom pitch para investidores?
Para quem não sabe, pitch é uma apresentação bem rápida do seu negócio, com o objetivo de atrair investidores que gostem de sua ideia e queiram colocar dinheiro para tornar o seu negócio escalável.
Um bom pitch precisa ser objetivo e mostrar os bons resultados do seu negócio. Uma boa dica é ser simples, direto e transparecer uma visão que seja convincente, para que os investidores se sintam atraídos a colocar dinheiro no seu produto ou serviço.
Você pode treinar fazendo alguns vídeos em casa ou simular com pessoas próximas. É importante ter domínio no seu ramo de atuação, ser transparente com os números e estar disposto a ouvir feedbacks durante essas sessões.
11. Como atrair clientes para o meu negócio?
Não dá pra ter um negócio bem-sucedido se não tem clientes ou consumidores, não é verdade?
É importante conhecer muito bem o seu ramo de atuação e ir atrás de técnicas eficazes para atrair clientes em potencial.
Você pode anunciar o seu negócio de forma online, por exemplo. Caso tenha uma localidade, pode contar com alguns tipos de anúncio que são direcionados geograficamente. Com pouco dinheiro, é possível investir em campanhas patrocinadas pelo Google ou pelas redes sociais, por exemplo, a fim de atrair o maior número possível de clientes.
Aliás, as redes sociais são uma ótima ferramenta para o marketing boca a boca. Recebeu um bom elogio de um consumidor? Peça para que ele faça uma postagem, marcando o seu lugar, por exemplo. Toda divulgação é positiva: mesmo que o seu orçamento seja baixo, vale a pena investir na divulgação do seu negócio, para que você possa vender mais e aumentar o faturamento da sua empresa.
12. Como equilibrar a minha vida pessoal com a rotina de empreendedor?
Essa é uma das perguntas mais difíceis de serem respondidas. Um empreendimento envolve muita paixão, erros, acertos, dificuldades, burocracia e muitos aprendizados.
Para se ter uma ideia, empreendedores de sucesso já revelaram que quebraram pelo menos uma vez na vida.
Claro que, quem monta o seu próprio negócio, procura ter sucesso e se tornar bem-sucedido.
E algo que pode ser definitivo é a forma com que você lida com o seu empreendimento. Embora existam muitas dificuldades, é preciso ter um equilíbrio entre vida pessoal e profissional. No começo, isso é bem difícil de atingir: muitas vezes, os empreendedores estão sozinhos, e precisam se virar de todas as formas possíveis para que o seu negócio prospere, sem a ajuda de funcionários.
Porém, você não deve mirar o sucesso do seu negócio a qualquer custo. Leve em consideração a sua vida pessoal, seus afazeres, família, rotina… Parte de ser um empreendedor tem a ver com qualidade de vida. Se você precisa se entregar 200% para que o seu negócio aconteça, talvez você deva rever suas prioridades e dar alguns passos atrás.
Se você depende demais do sucesso do seu negócio para ter uma boa vida, talvez valha a pena encontrar um outro meio de sustentação e tocar o negócio de forma paralela - mas sem ter que trabalhar longas horas por dia.
Portanto, invista no que você realmente gosta, para que o trabalho não seja extenuante. E conte com o apoio da família e dos amigos. Afinal, nos momentos difíceis, eles estarão lá para te apoiar!
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