Quem nunca quis ser o seu próprio patrão? Conseguir trabalhar da forma que realmente acredita, sem ter que prestar contas para alguém do que está fazendo pode parecer um sonho, não é mesmo?
O fato é que ser um empreendedor é um desafio maior do que muita gente imagina. E não apenas pelo fato de ter que ser responsável por tudo o que é feito em sua empresa. Nos primeiros anos, você pode ter bastante dificuldade para ter um bom volume de clientes, manter fluxo de caixa e manter tudo pago, para funcionar de forma sustentável.
O Brasil tem uma veia bem empreendedora - embora isso se reflita mais por necessidade do que vocação. Em momentos em que a economia oscila, é comum que os trabalhadores busquem novas opções para ter uma renda, seja como complemento do salário ou até mesmo para sustentar toda a família.
A pandemia agravou a situação de desemprego, levando muitos brasileiros a considerarem novas opções para ganhar dinheiro. Nesse sentido, 2020 foi um ano bem importante: nos primeiros nove meses do ano, houve um aumento de 15% no número de microempreendedores individuais (MEI), comparado ao ano anterior. Embora a modalidade facilite bastante para se montar o seu próprio negócio, ter apenas o registro como MEI é apenas um passo para seguir o ramo de empreendedor.
Porém, é importante entender a participação cada vez maior do MEI em nossa economia. De acordo com dados do Portal do Empreendedor, sistema do governo federal que regula os microempreendedores, eles já representam 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. E a tendência é aumentar ainda mais.
Embora a onda do empreendedorismo seja extremamente positiva para o país, muitas projeções apontam que 4 em cada 10 empresas correm o risco de entrar em falência no período de 10 anos. Os motivos são múltiplos: falta de recursos financeiros, não atender às necessidades do público e não investir nas ferramentas adequadas para sua expansão são alguns dos mais alegados pelos especialistas.
Portanto, antes de abrir uma empresa, é importante aprender os conceitos básicos de empreendedorismo, para montar caixa, distribuir recursos, projetar lucro e manter o máximo possível de cautela para não ir com muita sede ao pote.
Mas, antes mesmo de entrar nesse assunto, vamos mostrar os primeiros passos necessários para que você possa fazer a abertura da sua empresa.
Passo a passo para abrir a sua empresa
A abertura de uma empresa pode ser um processo cansativo e com um custo elevado. Uma pesquisa realizada pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) mostrou que o custo médio para abertura de uma empresa é de R$ 2.038 - algo que pode ser ainda maior, dependendo do estado em que conduzir a abertura.
Claro que esses valores retratam apenas o procedimento burocrático. Existem custos que são inerentes a cada negócio, como necessidade de aluguel, alvará, compra de equipamentos específicos, regulamentação, entre outros.
Vamos mostrar a seguir todo o passo a passo para que você possa fazer a abertura da sua empresa.
Saber que empresa você vai criar
Se você já tem uma ideia do que pretende criar, tem o seu modelo de negócio e uma ideia de como conquistar os primeiros clientes, bom, você já começou bem.
É preciso ter identificado o nome da empresa, os sócios e já ter um mínimo de ideia de como isso será operacionalizado antes de entrar com a abertura.
Claro que uma empresa pode mudar no meio do caminho: você pode trabalhar com um ramo e, com o tempo, descobrir que os potenciais clientes estão em busca de resolver outro problema.
De qualquer forma, é preciso formalizar o seu negócio, o que exige uma série de atividades a serem cumpridas.
Registrar a empresa
O trabalho de registrar a sua empresa é bastante complexo e envolve uma série de etapas, que iremos detalhar a seguir.
Antes de tudo, é preciso abrir um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) a partir das características do seu negócio. Caso vá investir em um microempreendimento, por exemplo, considere se não vale a pena entrar como MEI, que possui uma baixa incidência de impostos, além de garantir seguro-desemprego, caso o negócio venha a falir.
É preciso pesquisar sobre o seu ramo de atividade: se você vai abrir um comércio, por exemplo, o que é necessário ir atrás para tornar isso viável? Além disso, fique atento à legislação do seu município e de seu estado, para que tudo fique dentro da legalidade.
Encontrar um bom contador
Por mais que você tenha garra e queira conduzir boa parte do processo de abertura de empresa, é essencial contar com o trabalho de um contador. Além de já ter a experiência necessária para lidar com toda a burocracia de abertura da empresa, você pode focar na ideia e no planejamento para quando o seu negócio estiver em operação.
O contador saberá os momentos certos para entregar as devidas documentações, além de ajudar a manter o negócio de forma legal, prevendo todas as etapas necessárias.
Escolher o porte de empresa que vai abrir
A maioria das pessoas começam com uma empresa pequena. Porém, é preciso saber desde o começo o tipo de empresa que deseja abrir, para que você consiga adiantar com a documentação correta e já se preparar para os diferentes modelos de tributação.
Confira os portes mais comuns para abertura de empresa:
MEI (Microempreendedor Individual)
O MEI é voltado para pequenos negócios, em que você pode ter, no máximo, um funcionário CLT e planeja um tipo de negócio com faturamento anual de até R$ 81 mil. Por esse modelo, não é possível ter sociedade. É preciso fazer o pagamento das guias DAS, que custa R$ 60 mensais e garante contribuição para o INSS.
Nesse modelo, você não precisa de um contador e nem tem a obrigação de emitir notas fiscais para os serviços que for realizar. Para ser elegível como MEI, porém, é preciso verificar os ramos de atividade permitidos dentro do Portal do Empreendedor.
ME (Microempresa)
Com o ME, você tem mais abrangência para o seu negócio. Você pode contar com um sócio, por exemplo, e conta com mais opções de atividades que podem ser exercidas.
Para se enquadrar como ME, a empresa pode ter faturamento de até R$ 360 mil por ano e pode ter o regime Simples Nacional como tributação, que reúne até 8 impostos em uma única guia por mês.
EPP (Empresa de Pequeno Porte)
Trata-se de um tipo de empresa com faturamento maior que o ME. Isso significa que o EPP contempla empresas que faturam, em média, de R$ 360 mil a R$ 4,8 milhões por ano.
Por conta disso, o governo federal também inclui as EPPs no regime de tributação do Simples Nacional. Para isso, é criado uma tabela que leva em consideração o faturamento anual da empresa para definir o percentual a ser pago. Quanto maior o faturamento, maior o percentual a ser pago de imposto.
De qualquer forma, o Simples Nacional ajuda bastante os empreendedores a unificarem os impostos, reduzindo a incidência de inadimplência com a Receita.
Contrato social
Se você tem um ou mais sócios em seu negócio, precisará elaborar um contrato social, para definir as participações de capital de cada um.
O contrato social também define as atividades de cada um, o modelo tributário que será seguido, o percentual de participação, entre outros detalhes importantes para que fique muito claro o papel de cada um dentro do negócio.
Esse documento deve ser reconhecido em cartório e passar por assinatura de um advogado, para evitar qualquer tipo de problema legal com a futura partilha do negócio. É por meio do contrato social que a sua empresa poderá participar de licitações do governo e permitir a abertura da conta bancária da sua empresa.
Definição da natureza jurídica da empresa
Na elaboração do contrato social, o contador também define a natureza jurídica da empresa que está sendo criada. Confira as siglas e veja em qual delas o seu negócio se encaixa.
- EI (Empresário individual): nesse formato, você não pode ter sócio e seu patrimônio pessoal pode ser comprometido, caso a empresa entre em algum tipo de endividamento. Não há exigência de capital social mínimo para abertura do CNPJ, mas recomenda-se ter um capital inicial de abertura, para ter mais segurança. Vale lembrar que profissões regulamentadas, como médicos, advogados, dentistas, entre outros, não podem ser enquadradas como empresa individual.
- EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada: neste caso, você também é o único responsável pela empresa, mas não envolve seus bens pessoais em caso de endividamento. O capital social mínimo para esse tipo de natureza jurídica é de 100 salários mínimos vigentes em bens ou em dinheiro - algo em torno de R$ 110 mil em 2021. Isso significa que este valor precisa estar disponível em caso de endividamento da empresa.
- SLU – Sociedade Limitada Unipessoal: também voltada para quem deseja abrir a sua empresa sem ter nenhum tipo de sócio e sem envolver seus bens pessoais. Nesse caso, não é necessário ter capital social para investimento e até mesmo profissões regulamentadas podem aderir a esse formato. Por conta disso, a SLU é a mais procurada pelos empreendedores de microempresas que não têm sócios.
- LTDA – Sociedade Limitada: uma das siglas mais famosas quando se fala em abertura de empresas. A natureza LTDA é formada por dois ou mais sócios que contribuem com dinheiro ou algum tipo de bem avaliável para formar o capital social da empresa. A responsabilidade dos sócios é restrita ao valor do capital social. Quem contribui mais, naturalmente acaba tendo uma participação maior na companhia. Portanto, se este for o seu caso, converse bem com os seus sócios antes de bater o martelo na natureza jurídica da sua nova empresa.
Escolha da atividade que será exercida pela empresa (CNAE)
Uma empresa pode muito bem exercer mais de uma atividade. E isso precisa ser repassado com detalhes para o contador responsável por conduzir a abertura da sua empresa, para que fique devidamente regulamentada.
A partir das informações de todas as atividades que a sua empresa irá exercer o contador poderá enquadrá-la com o código CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas).
É possível que um CNPJ tenha mais de um CNAE, porém, é sempre necessário definir um como principal e os demais como secundários. O principal, claro, deve ser o ramo de negócio em que sua empresa irá atuar (ou seja, o responsável pelo faturamento).
Definição do regime tributário
Existem diversas formas de classificar quais tipos de tributo sua empresa deverá pagar. Isso depende de seu tamanho e leva até mesmo os lucros em consideração. Confira as opções:
- Simples Nacional: com as mudanças de regras para microempreendedores, ficou mais fácil pagar de uma só vez todos os impostos necessários para manter o negócio de pé. Somente microempresas com até R$ 4,8 milhões em faturamento anual podem aderir ao Simples Nacional, que reduz significativamente a carga tributária do seu negócio.
- Lucro presumido: nesse regime de tributação, as empresas podem faturar até R$ 78 milhões anuais e devem pagar as guias de impostos individualmente, que incluem IRPJ, CSLL, PIS, COFINS e ISS com vencimentos diferenciados. No total, a alíquota de imposto pode ir de 11% a 16% do faturamento anual da sua empresa, sempre levando em consideração o lucro presumido, que é estabelecido pela Receita Federal a partir das atividades e do tipo de empresa que tiver registrado.
- Lucro real: nesse regime, a sua empresa precisa pagar os impostos de acordo com o lucro que realmente possui. É preciso estar bem organizado com todas as contas e balanços, para que a Receita faça a tributação de forma correta. Esse tipo de tributação é obrigatório para empresas que possuem receita bruta anual acima de R$ 78 milhões.
Registrar sua empresa na junta comercial
A partir do momento que já tem o nome e o contrato social definido com os sócios, o próximo passo é registrar a empresa na Junta Comercial ou no cartório de Pessoas Jurídicas do seu estado. Só depois desse registro você tem, oficialmente, o CNPJ da empresa.
Ao definir o nome da sua empresa, será preciso fazer uma pesquisa prévia, para se certificar de que possui um nome único para ela. É preciso apresentar uma série de documentos para efetivação do registro na Junta Comercial, como:
- RG e CPF;
- Comprovante de endereço;
- Se casado(a), certidão de casamento;
- Cópia do IPTU ou documento que conste a inscrição imobiliária ou a indicação fiscal do imóvel onde a empresa será instalada.
Dependendo da atividade exercida, será necessário apresentar alguns documentos específicos, que serão consultados junto ao órgão responsável.
Obter alvará de funcionamento
O alvará nada mais é do que o documento que legaliza o funcionamento da sua empresa na sua cidade. É preciso já ir atrás do alvará antes mesmo de ter o imóvel (comprado ou alugado), para dar início ao pleno funcionamento da sua empresa.
Nessa etapa, a Prefeitura ou outro órgão municipal responsável verifica qual o tipo de atividade que será exercida no endereço. Para isso, o órgão regulador visita o local de funcionamento e realiza uma vistoria, para atestar sua viabilidade.
Todo estabelecimento comercial, industrial ou até mesmo de prestação de serviços precisa passar pela vistoria da Prefeitura para obtenção do alvará.
Caso trabalhe com armazenamento ou carga e descarga de mercadorias, é preciso atender a uma série de regras, para que o local receba a devida autorização. Dependendo do caso, a Prefeitura pode exigir a vistoria do Corpo de Bombeiros, para ver se o local atende a rígidas normas de segurança.
Realizar inscrição estadual
A inscrição estadual permite que o seu negócio esteja legalizado perante a Receita Federal, por meio de um cadastro único. A inscrição é obrigatória caso a sua empresa faça algum tipo de prestação de serviço de comunicação, energia, comércio, indústria e serviços de transporte.
Com ela, você obtém a inscrição no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que responde pela comercialização de bens e serviços no estado.
Com a inscrição municipal ou estadual, finalmente você completou todos os passos para a abertura da sua empresa. Agora, é concentrar as energias para o seu negócio dar certo e ficar atento às tributações, para não ter nenhum tipo de revés.
A seguir, vamos dar algumas dicas básicas para você que está começando agora a vida como empreendedor.
Dicas de como conduzir a primeira empresa
Invista em sua preparação
Após passar por todo o processo burocrático de abertura da sua empresa, é preciso estar bem preparado para como ela deve funcionar. Mantenha-se alinhado com seus sócios e invista todos os esforços necessários para que ela possa dar lucro o mais rápido possível.
Viabilidade da ideia
Muitos empreendedores acham que têm a ideia mirabolante que vai mudar a vida das pessoas. Mas, até que o negócio vá para rua e seja, de fato, um sucesso, existe um caminho a ser percorrido. Por isso, não perca tempo insistindo em um negócio que não é viável.
Defina o que realmente deseja fazer e crie o seu mínimo produto viável (MVP) para ser testado o quanto antes com os consumidores. A partir do momento que você conduz o seu negócio, ouve as pessoas que estão comprando e trabalha no aprimoramento contínuo do seu negócio, suas chances de crescer aumentam.
Entenda todos seus custos
De início, você pode ter várias dúvidas em relação aos custos, principalmente se ainda estiver procurando a viabilidade do seu negócio. Porém, mantenha uma boa organização para considerar seus gastos mensais: equipamentos, contas básicas mensais, tributação, estoque, reposição de materiais, pagamento de funcionários, entre muitos outros que podem se acumular ao longo do tempo.
Comece a montar fluxo de caixa
Fluxo de caixa é o movimento de entrada e saída do caixa da empresa, ou seja, tudo o que você ganha e recebe com o seu negócio. É preciso ter um valor em mãos para que sua empresa esteja em pleno funcionamento. Por isso, tenha o cuidado de registrar tudo o que entra, sai, as vendas, os valores a pagar com fornecedores, materiais, entre outros.
Com uma visão diária, semanal e mensal, você consegue ter em mãos todos os detalhes para analisar a saúde financeira do seu negócio. Você pode começar utilizando planilhas e, caso a operação se torne mais complexa, pode contar com sistemas de gestão online, que irão facilitar bastante a vida do seu negócio.
Atenção com o estoque
Quem trabalha com compra e venda de materiais sabe muito bem da importância de se ter um bom estoque. Porém, não gaste tudo o que possui meramente para ter um amplo estoque: produtos podem vencer, e você pode tomar um grande prejuízo já nos primeiros meses de empresa.
Portanto, comece pequeno e vá entendendo o ritmo do seu negócio, para que você reponha o que for necessário no momento certo.
Separe as finanças pessoais das finanças da empresa
É extremamente importante fazer esse tipo de separação, mesmo que você seja o único dono do seu negócio.
Separe o que entra e sai do seu negócio e defina os valores para investir em mais materiais, capital ou até mesmo novos serviços. Um dos maiores motivos para quebra de micronegócios é o problema com o faturamento. Separe um percentual para tirar o seu salário (e o dos sócios, se tiver) e trate as contas da empresa de forma totalmente apartada das contas da sua família.
Foque no planejamento
Para um negócio prosperar, planejamento é crucial. Acompanhe a saúde financeira do seu negócio, identifique os melhores momentos para investir em mais materiais e, caso esteja crescendo bem, considere a necessidade de contratar mais funcionários.
Com organização e muita dedicação, o seu negócio pode prosperar e garantir bons lucros no futuro.
E você sabia que pode contar com o consórcio para impulsionar o seu negócio? Confira nosso post especial explicando como os empreendedores podem se beneficiar com o consórcio.