Com o agravamento da pandemia de Covid-19, muitos brasileiros passaram por situações difíceis, incluindo a perda de renda.
Isso porque medidas extremas, como a necessidade de conter o coronavírus por meio do isolamento social, tiveram que ser adotadas no mundo inteiro, com o objetivo de proteger as vidas das pessoas, principalmente as mais afetadas, como os idosos e demais grupos de risco.
Por conta disso, a economia do mundo inteiro passou por uma drástica retração. O Brasil viu seu Produto Interno Bruto (PIB) recuar em mais de 4,5% ao longo de 2020, enquanto o índice de desemprego atingiu 14, 4%, impactando mais de 14 milhões de brasileiros - sem contar as pessoas que desistiram de procurar emprego, porque estão há mais tempo nessa situação difícil.
Enquanto muitas pessoas perderam seus postos de trabalho, outros empregados sofreram o impacto de outra forma: com a redução do salário. Essa foi mais uma das medidas drásticas tomadas pelo governo, com o objetivo de salvar 10 milhões de empregos de pessoas registradas em carteira.
Porém, um volume bem maior de brasileiros foi afetado por conta disso: segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), pelo menos 40% dos brasileiros tiveram significativa perda do poder de compra por conta da pandemia. Do total de entrevistados, 23% perderam totalmente a renda e 17% tiveram redução no ganho mensal, atingindo o percentual de 40%.
Ou seja, a perda de renda tornou-se uma realidade para quase metade dos brasileiros.
A perda de renda pode ser uma experiência traumática para muitas pessoas, principalmente se for uma perda muito significativa.
O desejável é ter o pé no chão e contar com o apoio de toda a família para superar essa fase. Isso requer enxergar a realidade de uma outra forma: se o seu emprego não consegue sustentar o seu padrão de vida, você precisa pensar em uma renda complementar ou, em casos mais extremos, procurar novas oportunidades.
Mas, como lidar com uma situação tão complicada? É possível se reerguer? Confira nossas dicas a seguir. Primeiramente, vamos mostrar como você precisa encarar a situação de uma maneira diferente para, depois, entrarmos no quesito prático de como superar esse momento tão difícil.
Avalie a situação como um todo
Já parou pra pensar como o ser humano sempre procura um culpado para tudo?
Antes de começar a se lamentar, é importante avaliar a situação como um todo: por que você e sua família estão, atualmente, passando por dificuldades?
Existem fatores que, infelizmente, não podemos controlar: a estabilidade do emprego, o quanto ganhamos ou a elevação dos preços. Nesse momento, pare para pensar no que você poderia ter feito para evitar essa situação.
Tudo bem, não podemos chorar pelo leite derramado. Mas, saber o que deu errado é de extrema importância para seguir em frente. Todos estamos sujeitos a cometer erros, e reconhecê-los é o primeiro passo para a superação.
Da mesma forma que existem fatores incontroláveis, também existem medidas que poderiam ser tomadas para evitar um impacto mais duro da perda de renda. Por exemplo, você e sua família chegaram a montar uma reserva de emergência quando tiveram uma oportunidade? Será que os gastos mensais poderiam comprometer quase 100% dos rendimentos?
Nem todos têm a oportunidade de superar momentos difíceis, mas quando você encara a situação de outra forma, tem mais chances de conseguir se reerguer e se preparar melhor para novas adversidades.
Quando a perda de renda representa um luto
Não é só diante da morte que passamos por luto. Ele geralmente tem a ver com um choque de realidade e, por mais que seja um procedimento natural do ser humano, pode ser traumático para algumas pessoas. Por isso, ter o apoio da família e dos amigos é essencial nesse momento.
Geralmente quando falamos de luto, passamos por diversas fases. Confira as principais:
• Negação: de início, é comum não aceitar a perda, independente da forma com que isso aconteça. Na maioria dos casos, trata-se de um mecanismo de defesa que ativamos, que nos leva a questionar a situação recusando a aceitá-la.
• Raiva: sabe aquele momento em que muitas pessoas se questionam: ‘por que isso está acontecendo comigo? O que fiz de errado?’. Geralmente isso acontece em um momento de muita raiva com a situação. Muitas pessoas associam a conquista de dinheiro ao sucesso e, nesse momento, podem se sentir enraivecidas por ficarem com a sensação de terem ‘fracassado’.
• Depressão: quando a pessoa fica muito quieta, reflexiva, pensando demais na situação e nos efeitos dela, pode apresentar algumas características de depressão. Esse é o momento em que ela mais precisa de apoio, de conversar, extravasar, colocar pra fora o que realmente sente.
• Aceitação: é o momento em que a pessoa passa a sofrer menos com a situação de perda. Embora seja um caminho natural, é preciso tomar cuidado para que a aceitação não se transforme em total resignação com a perda de algo que pode ser recuperado. Esse é o momento em que a pessoa corre o risco de deixar as coisas acontecerem sem tomar nenhuma providência para reverter a situação.
• Negociação: é o momento em que as pessoas partem para o plano de ação diante de uma perda. No caso da renda, trata-se de um momento extremamente importante. Afinal, dinheiro é algo que você pode conquistar novamente - diferente da perda de um ente querido, por exemplo.
Partindo para o plano de ação
Por mais que as pessoas tenham um processo para lidar com a perda, as contas não deixam de chegar, não é mesmo?
Essa é a hora de começar a arregaçar as mangas e partir em busca de lidar com a situação atual da melhor forma, para que possa superá-la e, assim, dar a volta por cima.
A seguir, veja o passo a passo de como proceder para deixar a sua vida financeira nos eixos e, passado o momento mais difícil, se preparar para não passar por aperto novamente.
Veja qual foi o real impacto da sua renda
A primeira coisa a se fazer é identificar o real impacto da perda de renda. Como isso afetou os seus gastos mensais?
Converse com todos os membros da família não apenas para falar sobre os impactos, mas também para identificar o que é prioritário ou não após chegar a este momento.
Dê uma boa revisada na sua planilha de gastos. Caso não tenha esse controle, você pode puxar o seu extrato de forma digital pelo seu banco (evite a ida à agência em tempos de isolamento social, a não ser que não haja outra alternativa).
Após ter acesso a todos os seus gastos, sente-se com todos os integrantes da família e identifique o que realmente precisa ser mantido. Priorize as contas essenciais, como aluguel, contas de água, gás, energia, enfim, o que é imprescindível para a sobrevivência e para manter um mínimo de bem-estar.
Caso ainda sobre algum dinheiro, veja quais dos seus gastos podem ser mantidos. Mas, se o dinheiro for insuficiente pelo menos para as contas básicas, pense em um plano de ação para ter uma renda extra imediata.
Corte o que for supérfluo
Cortar gastos pode ser uma atitude dolorosa, mas é extremamente necessário em um momento de perda de renda.
A participação de toda a família é essencial nessa etapa. Veja o que pode diminuir com as compras mensais, corte o que considera luxo - como TV a cabo, plano de celular, serviços em nuvem, assinaturas etc - e comece a traçar o que é essencial pagar e manter neste momento.
Sempre faça esse acompanhamento mensalmente, para entender se os cortes realmente têm ajudado a manter as demais contas em dia.
Analise todas as suas dívidas
Se você possui dívidas correntes, um momento como a perda de renda é oportuno para reaver tudo isso.
Pegue o carro como exemplo. Se você ainda estiver pagando por ele, considere vendê-lo ou até mesmo trocá-lo por um modelo inferior, caso precise dele. Inclusive, você pode até mesmo considerar o consórcio para a troca de um carro.
Mas, caso tenha dívidas com o banco, veja uma forma de renegociar o valor. Avalie as condições ofertadas e acompanhe os feirões de renegociação em busca de melhores oportunidades, que ofereçam boas condições de pagamento e diminuam bastante o juros das dívidas.
Vale lembrar que, quando você se torna um inadimplente em relação a uma dívida, você fica com restrição nas casas de crédito. Caso você esteja com o nome sujo, por exemplo, basta começar a pagar por uma dívida para que sua situação se regularize.
Em um momento de perda de renda, é importante manter o nome limpo. Pode ser que você se depare com uma situação crítica e, sem renda para conseguir resolver de forma emergencial, tenha que recorrer a um empréstimo. Com o nome sujo, fica mais complicado ter crédito na praça. Por mais que não seja recomendado pegar empréstimo com instituições financeiras, por conta do alto valor de juros que se paga, trata-se de um recurso que pode ajudar em uma situação crítica.
Tente negociar as dívidas
Após listar todas as suas dívidas, veja quais você consegue ou não negociar.
Como dissemos, os feirões podem ser uma boa alternativa para que você consiga quitar algumas dívidas que tenham um alto valor de juros.
Porém, nem todas as dívidas são iguais. Por exemplo, se você estiver pagando pela casa, e não tiver dinheiro para pagar mensalmente, corre o risco de perder o imóvel. Nesse caso, trata-se de uma dívida que deve ser encarada como prioritária.
Mas existem casos em que a dívida representa a aquisição de um serviço não tão importante assim, como cartão de crédito, por exemplo. Se tiver que diminuir o limite, não fique com receio. O importante é saber lidar com a situação de perda de renda no momento em que ela acontece.
O melhor é tentar negociar o que dá e, se tiver que deixar de pagar e perder algum serviço, tudo bem. Encare tudo como uma fase, que exige medidas corretivas para não se agravar. Quando tudo passar, e as coisas voltarem ao normal, você pode adquirir novamente os serviços que desfrutava.
Pratique o desapego
É comum que, no momento em que nos deparamos com uma situação de perda de renda, queiramos nos prender a conquistas ou bens materiais do passado.
Atualmente, existem diversas formas de obter uma renda com itens usados que você possui. Existem sites de comércio eletrônico que permitem colocar para venda artigos usados, roupas ou até mesmo algum móvel que não tem tanta importância para você no momento atual.
Por mais que seja um processo doloroso se livrar de artigos pessoais, entenda como algo temporário. E, claro, não significa que você precise vender tudo que existe em casa: apenas aquilo que não tem muita serventia.
Não tenha medo de pedir ajuda
Muitas pessoas ficam com vergonha quando se deparam com um momento de perda de renda. Por mais que se trate de uma situação delicada, não faltam pessoas que estão dispostas a ajudar.
Quando falamos de ajuda, não necessariamente falamos em pegar dinheiro emprestado, por exemplo. Porém, você pode ter um amigo ou colega que pode oferecer a oportunidade que precisa para virar o jogo, seja uma vaga de emprego, a possibilidade de conhecer alguém bem relacionado que possa orientá-lo ou até mesmo com alguma tarefa simples, como ajudar a colocar algum material para venda na internet, por exemplo.
Em momentos de vulnerabilidade, não teremos todas as respostas e nem sabemos lidar com algumas das etapas para superar a perda de renda. Portanto, quando necessário, saiba pedir ajuda a quem realmente se preocupa com você.
Determine novas prioridades
Em momentos em que a situação aperta, é preciso dar um passo para trás e rever o que é prioridade neste momento. Leve em consideração as necessidades básicas: manter o teto, garantir alimentação para todos os integrantes da família e conseguir arcar com as contas básicas, como água, gás, luz e moradia.
Se você mora de aluguel, por exemplo, e considera que a mensalidade está muito alta, considere ir para um cômodo menor, em busca de um valor que caiba em seus rendimentos mensais.
Este momento exige união de todos os integrantes da família. Por isso, deixe muito claro como está a situação financeira e ouça as sugestões de todos os integrantes. Quando se tem o apoio da família para lidar com essa situação difícil, você tira o peso de ter que lidar com isso sozinho, além de criar um senso de responsabilidade entre todas as pessoas envolvidas.
Com uma renda inferior, veja o que dá pra ser mantido nos rendimentos. Existem alguns custos que são mais sensíveis de cortar, como escola ou faculdade dos filhos. Afinal, trata-se de um investimento para o futuro. Porém, se a situação for muito drástica, a melhor forma de encarar é determinar uma data para voltar a pagar pela educação. Ou, pelo menos, estipular o mínimo necessário que a família deve ter por mês para conseguir voltar a pagar. Isso mostra o comprometimento com um investimento necessário e pode aliviar a dor de ter que pausar os estudos de maneira forçada.
Considere novas formas de obter renda
No começo, a perda de renda associada ao seu trabalho pode representar um choque. Depois de analisar toda a situação e identificar as novas prioridades, considere a possibilidade de obter uma nova fonte de renda.
Com o mercado de trabalho formal cada vez mais enxuto, diversos trabalhadores têm procurado alternativas de renda complementar - ou, no caso de ter perdido o emprego, procurado uma forma de ganhar dinheiro de maneira informal.
Uma boa alternativa está na economia colaborativa, ou seja, trabalhar por conta própria em aplicativos de carona, como Uber e 99, ou como entregador em apps como iFood, Rappi e Uber Eats.
A vantagem de considerar estes apps é a possibilidade de conciliar horários. Caso tenha sido impactado com a redução de jornada de trabalho, pode usar parte das horas livres realizando um desses trabalhos - principalmente se tiver carro ou moto.
Caso você tenha uma família estruturada, converse com os integrantes sobre a possibilidade de conquistar uma renda extra, para ajudar nas contas de casa. E, claro, fique atento a novas oportunidades: se você identificar uma nova oferta, e tiver a chance de mudar para um emprego melhor, vá em frente! O importante é buscar novas formas de ampliar os rendimentos mensais, para manter as contas em dia e, claro, proporcionar mais conforto à família.
Pense em um plano B
Lembra que no começo falamos sobre avaliar a situação como um todo - e como devemos focar naquilo em que realmente podemos controlar?
Depois de reorganizar as finanças e conseguir novas formas de atrair renda, é preciso encarar a nova situação de uma forma diferente. Agora que você conseguiu dar um jeito na situação, como fazer para evitar o perrengue?
Por exemplo: digamos que você mantenha o seu trabalho em jornada reduzida e tenha conquistado uma renda extra. Dessa forma, além de manter as contas em dia, você conseguiu até mesmo juntar um bom dinheiro. Sabe o que você pode fazer? Pensar na reserva de emergência, para ter mais segurança caso tudo saia dos eixos novamente.
Não se esqueça dos aprendizados das situações difíceis. A partir deles, você pode se preparar para outros momentos semelhantes e, além de ter mais segurança, conseguir mais tempo para voltar ao padrão e até mesmo aumentar a sua renda quando tiver oportunidade.
Não persista no erro
Agora que você sabe como poderia ter feito para não chegar a uma situação difícil com a perda de renda, não repita o erro. Comece a se preparar o quanto antes para diminuir o impacto caso isso venha a acontecer.
Além de montar a sua reserva financeira, aproveite o momento de união familiar para determinar objetivos em conjunto.
Uma boa prática é manter a transparência financeira dentro de casa. Você pode fazer isso usando uma planilha ou um caderno de anotações, se preferir. Converse com todos sobre as despesas de casa, sobre o que desejam comprar para o futuro e como se unir para que todos da família façam melhor uso do dinheiro.
Por exemplo, se você tem um filho adolescente que deseja fazer uma faculdade assim que terminar o colegial, por que não já ir se preparando? Uma possibilidade é aproveitar as vantagens do consórcio de serviços, que ajuda a pagar a faculdade de uma só vez, com toda a praticidade de um consórcio. Você pode ir pagando as mensalidades de acordo com o que cabe no seu orçamento mensal e, ao ser contemplado, garantir o pagamento parcial ou total do ensino superior.
Em resumo, quanto mais você conseguir planejar os próximos passos, maiores são as chances de usar o dinheiro de uma forma inteligente e manter a saúde financeira da sua família.
Um novo passo rumo ao sucesso
Muitos investidores experientes contam histórias de como já faliram, ou quase faliram, em algum momento da vida. Na maioria dos casos, a perda de renda faz com que você encare o dinheiro de uma maneira diferente.
Histórias de sucesso envolvem momentos de fracasso. É a forma que lidamos com ele que determina se você vai conseguir superá-lo ou não.
Por isso, encare o momento de perda de renda como um momento que será superado. Pode ser a oportunidade de reunir todos os integrantes da família rumo a um objetivo mais sólido, preparar-se para ter um bom acúmulo de renda ou até mesmo rever sua vida profissional.
O importante é conseguir superar essa fase e manter-se otimista para novas oportunidades. Fique atento a elas, reveja os erros, conte com o apoio da família, não tenha medo de pedir ajuda e, o mais importante de tudo, preserve sua saúde mental para lidar com a perda de renda. Mantenha-se sempre positivo, não tenha medo de recomeçar mesmo com pouco dinheiro e fique atento aos aprendizados. Você sairá dessa como uma pessoa melhor, mesmo diante de uma experiência tão indesejável.
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