Saiba como limpar o seu nome

9 de nov. de 202112 minutos de leitura
Saiba como limpar o seu nome

O Brasil é um país que tem um sério problema com endividamento das pessoas. Por conta da pandemia de Covid-19, esses números tiveram uma alta ainda maior.

De acordo com o Serasa, cerca de 62 milhões de brasileiros se tornaram inadimplentes com suas dívidas em 2021. Isso significa que o dinheiro ganho mensalmente não é o suficiente para que essas pessoas consigam pagar tudo o que devem.

Mesmo os brasileiros que têm dinheiro para pagar suas contas passam por outro problema: ter a renda totalmente comprometida com os boletos mensais, uma realidade que afeta mais da metade da nossa população.

Embora a falta de educação financeira seja realidade em um país em que essa disciplina não chega a ser ensinada na escola, o brasileiro também sofre com a alta tributação cobrada, o aumento da inflação (que corrói o valor do dinheiro por conta do aumento generalizados dos preços) e com a alta do câmbio, que faz com que o real se torne desvalorizado perante outras moedas, afetando, inclusive, o preço dos produtos que são importados.

A soma de todos esses fatores faz com que o rendimento médio do brasileiro seja totalmente comprometido com as contas e com o consumo. E, por conta disso, grande parte da população fica com o nome sujo, o que traz uma série de prejuízos.

A seguir, vamos explicar as consequências de se ter nome sujo, como fazer para limpar o nome e trazer algumas dicas para você iniciar seu planejamento financeiro e manter a sua conta sempre no azul.

O que é ter o nome sujo?

Sempre que abrimos uma conta no banco, associamos o nosso nome a uma conta de consumo (como água e luz, por exemplo) ou até mesmo quando utilizamos o carnê em uma loja como recurso para uma compra, envolvemos o nome nessas transações.  

Isso significa que os credores atribuem uma responsabilidade para quem se compromete com essas dívidas.

Quando você deixa de pagar alguma dessas contas, geralmente as instituições realizam cobranças: é quando acontecem as ligações, questionando quando o valor será pago. Vale lembrar que, para cada conta atrasada, o responsável precisa se comprometer com o juros, que tende a ficar maior a cada dia de atraso.

Geralmente quando o atraso para o pagamento de uma conta é maior que o esperado, a instituição responsável pela cobrança realiza a notificação do nome do devedor para os birôs de crédito, como SPC e Serasa. É com essa notificação que se entende que o consumidor está com o nome sujo.

Quando isso acontece, o consumidor fica limitado a fazer uma série de coisas. Por exemplo, as instituições financeiras passam a bloquear qualquer concessão de crédito: se precisar de mais limite em seu cartão de crédito ou de cheque especial, por exemplo, muito provavelmente você ficará impossibilitado por conta desse tipo de notificação.  

Caso tenha interesse em comprar algum tipo de bem e precise parcelar, mesmo que não seja com o uso de um cartão de crédito, muito provavelmente a loja responsável ou a instituição irão impedir qualquer tipo de aprovação, porque entendem que a pessoa com o nome sujo seria uma potencial inadimplente, ou seja, não teria os recursos necessários para pagar o que deseja comprar.

Com o nome sujo, o consumidor fica impossibilitado de ter acesso a crédito e, na maioria dos casos, é cobrado insistentemente pelas instituições. Em casos mais graves, você pode ter até mesmo imóveis (caso tenha mais que um, porque se o imóvel for único, não chega a ser bloqueado) ou carros bloqueados na Justiça. Assim, você não consegue vendê-los e corre o risco de perder esses bens para ter que pagar o que deve.

Estudantes inadimplentes também podem sofrer as consequências e correm o risco de não conseguir se matricular na escola ou faculdade, se tiverem com o nome sujo.

Outro risco de ter o nome sujo é ser recusado em propostas de emprego. Alguns recrutadores consultam o nome do candidato nos birôs de crédito, para verificar o status de bom pagador. Embora seja uma prática que possa prejudicar quem procura trabalho para efetivamente pagar as suas dívidas, ainda assim muitas empresas realizam essa consulta, obedecendo a um critério de seleção particular da companhia.

Portanto, se você está com o nome sujo, é extremamente importante se organizar para limpar o seu nome o quanto antes. Vamos explicar como você pode lidar com essa situação neste artigo.

Como saber se estou com o nome sujo?

Em muitos casos, a pessoa que está endividada recebe algum tipo de notificação, como uma carta em seu endereço de algum dos birôs de crédito, como SPC e Serasa. Isso significa que seu nome está no cadastro de inadimplentes e, caso não resolva a questão até a data indicada, pode ter seu nome sujo.

As empresas de órgão de proteção ao crédito têm regras distintas, ou seja, pode ser que você seja notificado no SPC, mas não esteja no Serasa ou na Boa Vista SCPC. Isso porque cada uma dessas instituições agrupa informações de diferentes setores de empresas. Para se certificar se o seu CPF está sujo ou não, vale a pena consultar em cada uma dessas instituições.

Cada consumidor possui um score nesses birôs de crédito. Quando você fica com o nome sujo, por exemplo, seu score fica muito baixo, impossibilitando a concessão de crédito, por exemplo.  

Como fazer para limpar o meu nome

O primeiro passo para que você consiga limpar o seu nome é ter uma boa organização financeira. Isso significa ter que reajustar todas as suas contas e partir para o plano de ação.

Primeiramente, é preciso entender quais dívidas estão em seu nome. Veja qual o valor que precisa ser pago e, claro, tente negociar.

Em muitos casos, as dívidas podem gerar um bom desconto para o pagador, principalmente se conseguir se organizar para o pagamento à vista. Para isso, é necessário entrar em contato com a empresa em que a dívida está em aberto ou negociar com quem está cobrando essa dívida (que muitas vezes pode ser feita por outra empresa, visto que é prática comum algumas instituições ‘venderem’ as dívidas para outras empresas).

É importante que você reorganize suas finanças antes de entrar com o plano de ação para o pagamento da dívida. Você pode criar uma planilha financeira, em que lista todos os gastos e ganhos mensais. Corte o que for supérfluo e converse com toda a família para que tenha alguma sobra mensal de dinheiro.  

Caso os seus recursos continuem insuficientes, considere a possibilidade de fazer uma renda extra, para que consiga arcar com as dívidas.

A partir do momento que você conseguir ter uma sobra a cada mês, pode partir para o plano de ação e iniciar o pagamento de suas dívidas.  

É possível lidar com isso de diferentes formas. Se o valor da dívida for muito grande, vale a pena parcelar em pequenos valores e se comprometer mensalmente com o que for pago. Vale lembrar que, quando você deixa de cumprir um acordo, é feito um novo recálculo da dívida, considerando mais incidência de juros. Portanto, se comprometa com o pagamento após selar algum tipo de acordo.

Se optar pelo pagamento parcelado, assim que honrar sua primeira parcela seu nome é retirado dos birôs de crédito. Isso acontece porque entende-se que o consumidor está se planejando para o pagamento das dívidas.

Porém, seu score não eleva de uma hora para outra. Somente com o comprometimento da dívida e se organizando para pagar você pode ir, aos poucos, aumentando o seu score.

Não existe uma regra geral para o pagamento de sua dívida. Se o objetivo for tirar o seu nome dos birôs de crédito o quanto antes, dividir e pagar a primeira parcela pode ser um caminho a se seguir.  

Mas, se quiser se livrar o quanto antes de tudo o que deve, você também pode se organizar para juntar um valor mais elevado e quitar a dívida de uma vez. A vantagem de seguir dessa forma é a possibilidade de negociar um valor mais em conta com o pagamento à vista. Porém, você pode precisar de mais tempo para juntar o dinheiro necessário, ou seja, ficar mais tempo com o nome sujo.  

Se preferir, você pode fazer um tipo de abordagem mista: pode negociar o pagamento parcelado da dívida, pagar a primeira mensalidade, juntar um valor para quitar a dívida total e, depois, procurar a empresa responsável e negociar a quitação imediata. Dessa forma, você se compromete com o pagamento da dívida, se organiza para o pagamento e tem a possibilidade de quitar por um valor menor do que seu pagamento a prazo.

Fique atento também aos feirões de renegociação, que costumam acontecer algumas vezes ao longo do ano. Se você tiver dificuldade para pagar uma dívida, pode se deparar com boas oportunidades para quitar a dívida por um valor bem mais em conta que o seu valor original.  

O que é e como funciona o score

Cada consumidor possui uma pontuação atribuída às suas dívidas e a forma com que lidamos com cada uma delas.

O score acompanha a vida financeira do consumidor e permite que bancos e diferentes instituições financeiras possam ter uma classificação mais precisa do tipo de consumidor que está lidando.  

Para isso, são avaliados dados como pagamento da fatura do cartão de crédito, financiamentos bancários, movimentação na conta bancária, pagamento de contas de consumo, entre outros, sempre considerando se os pagamentos foram realizados até a data de validade.

Essa pontuação vai de 0 a 1.000. Quanto maior a pontuação, menores são as probabilidades de inadimplência do consumidor. Por isso mesmo, quem tem uma boa pontuação consegue empréstimos com juros menor, tem acesso a um valor mais elevado de limite de cartão de crédito etc.  

No caso de o consumidor ser um bom pagador, até mesmo na hora de renegociar alguma dívida pode haver um bom desconto.

Os órgãos de proteção ao crédito realizam o acompanhamento de seu score, que também é consultado pelos bancos na hora de fazer alguma concessão de crédito, por exemplo. Serve como parâmetro para indicar como as instituições encaram a sua situação financeira.

Quem está com dívidas em aberto geralmente possui um score abaixo de 600, o que indica um risco de inadimplência para as empresas responsáveis por conceder crédito.  

Como consultar meu score

Você pode consultar o seu score nos birôs de crédito. Para isso, é preciso completar um cadastro em cada um deles, como Boa Vista, Serasa e SPC.  

Em cada um deles, você consegue ver a sua pontuação. Pode ser que haja algum tipo de diferença nas pontuações. Isso porque cada um deles agrupa um conjunto de dados diferentes: enquanto o SPC organiza mais dados de lojistas, por exemplo, o Serasa está mais alinhado com os dados que vêm dos bancos.  

Com um cadastro gratuito em cada uma dessas plataformas, você pode acompanhar o seu score. É possível até mesmo verificar as pessoas e empresas que estão consultando o seu nome e ter serviços mais avançados - para isso, é preciso contratar os planos de assinatura de cada um deles.  

Dicas para uma boa organização financeira para o pagamento de sua dívida

A seguir, vamos trazer algumas dicas para que você consiga deixar as suas finanças bem organizadas e, assim, conseguir limpar o seu nome sem problemas.

Anote todos os seus gastos

Como já dissemos, ter uma planilha ou até mesmo um aplicativo de finanças pessoais pode ajudar bastante na organização de tudo o que entra e sai em seus rendimentos mensais.

Utilize um desses recursos para anotar o que você ganha como salário e todos os seus gastos correntes: valor de aluguel, contas básicas, valor de fatura de cartão de crédito, escola dos filhos, enfim, até mesmo o cafezinho da padaria deve ser listado.  

Com isso, você consegue visualizar os gastos de toda a família e identificar o que pode ou não ser cortado, a fim de ter uma sobra de dinheiro.

Corte gastos superficiais

A matemática para uma boa organização financeira é simples: você deve gastar apenas uma parte do que ganha, portanto, sempre precisa ter uma sobra de dinheiro no fim do mês.

Se você costuma gastar em idas ao restaurante, por exemplo, comece a adotar a prática de ir ao supermercado e fazer a própria comida em casa. Assim, você consegue ter uma boa economia.

E, claro, corte as despesas que não afetam tanto o seu padrão de vida. Por exemplo, se você paga TV a cabo, será que não vale o esforço de manter apenas os canais básicos ou até mesmo ter um único serviço de streaming para assistir o que deseja? Faça um pente fino também nos gastos com celular e, se for necessário, até mesmo com plano de internet, adquirindo um pacote mais barato e que atenda ao que a família precisa.

Converse com todos os integrantes da família antes de adotar esses hábitos. É importante que todos tenham compreensão da magnitude de se ter uma dívida em aberto, o que pode comprometer bastante a vida financeira de todos.  

Portanto, quanto antes conseguir estabelecer um plano de ação para limpar o seu nome, melhor. Assim, você consegue se organizar, tirar seu nome dos birôs de crédito e, aos poucos, melhorar seu score, para conseguir alguns benefícios no futuro, como facilidade de obter empréstimo, maior limite de cartão de crédito, entre outras facilidades.

Calcule os próximos meses de receita e despesa

Agora que você já tem uma planilha ou um app financeiro, comece a utilizá-lo com frequência. Faça uma projeção dos meses seguintes, para identificar qual será o mês em que as contas de casa irão se equilibrar.  

Você pode até mesmo estipular como meta guardar parte do seu salário como se fosse uma dívida, para conseguir se organizar melhor.

Quando você souber qual será o mês em que conseguirá guardar dinheiro, saberá muito bem o melhor momento de negociar a dívida e adotar alguma das abordagens que mencionamos.

Comece a negociação

Com um plano de ação para organizar o pagamento da sua dívida, o próximo passo é trabalhar com a negociação. Você pode comparar o juros do empréstimo consignado com o de outros bancos e, se quiser, pode até mesmo solicitar a portabilidade da sua dívida para outra instituição que tenha um juros mais atrativo.

É possível solicitar a portabilidade de sua dívida a qualquer momento. De acordo com o Serasa, existem diversos motivos para considerar a portabilidade, como qualidade no atendimento da instituição, flexibilidade e, claro, taxas de juros mais atrativas para o pagamento da dívida.

Além de calcular as taxas, é preciso considerar o CET (Custo Efetivo Total) de toda a dívida - que inclui a quantidade de parcelas a serem pagas, por exemplo.

Embora a portabilidade da dívida seja um direito do devedor, algumas instituições podem cobrar uma taxa para efetivar a transferência da dívida. Considere isso em sua avaliação.

Tem mais de uma dívida? Priorize as mais importantes

No caso de se ter mais de uma dívida em aberto, priorize as que têm o seu imóvel como garantia. Afinal, perder a sua casa ou apartamento por conta de uma dívida pode representar um prejuízo gigantesco. Quanto antes conseguir se organizar para o pagamento dessa dívida, melhor. Considere a portabilidade da dívida, caso a taxa de juros seja muito grande.

No caso de múltiplas dívidas, você pode se organizar de diferentes formas: tentar negociar o parcelamento de todas elas, de forma que caiba em seu orçamento, ou se organizar para quitar uma de cada vez.  

O ideal é não comprometer mais que 30% dos seus rendimentos mensais com o pagamento de parcelas. Portanto, mantenha sempre a sua planilha ou aplicativo atualizado com seus rendimentos e gastos e planeje a médio e longo prazo o pagamento de tudo o que deve.

Comprometa-se com o pagamento da dívida

Uma vez que você tenha tido uma boa negociação, honrar com o pagamento é crucial para que você mantenha o seu nome limpo e possa aumentar o seu score.

Com organização, planejamento e, claro, muito esforço, você pode finalmente se livrar daquela dívida que estava tirando o seu sono e tirar isso como aprendizado para uma vida financeira melhor.

Melhore sua vida financeira

Com as dívidas sob controle, vale a pena manter o mesmo rigor para investir o seu dinheiro. Você pode guardar uma parte do seu salário para dar início à sua reserva de emergência, que representa pelo menos seis vezes os seus rendimentos mensais para lidar com situações graves, como desemprego ou problemas de saúde na família.  

Utilize um produto financeiro de fácil resgate para montar a sua reserva de emergência. Você pode conversar com o seu banco ou considerar algum banco digital que tenha rendimentos maiores que 100% do CDI. Evite a poupança a qualquer custo, afinal, ela tende a render menos do que a inflação anual. Dessa forma, você acaba saindo no prejuízo ao deixar o seu dinheiro na poupança.

Após montar a sua reserva financeira e garantir mais recursos para uma vida confortável para toda a sua família, o próximo passo é aplicar em investimentos. Com educação financeira, você começa a identificar aos poucos as melhores oportunidades para aplicar o seu dinheiro.

Caso tenha dificuldade, comece investindo seu dinheiro na renda fixa, que gera uma previsibilidade dos seus ganhos em um período de tempo estipulado. E, se quiser maximizar seus ganhos, aí sim vale a pena considerar a renda variável e aplicar o seu dinheiro na bolsa de valores, em fundos imobiliários, dólar e índice futuros, opções ou até mesmo criptomoedas, que têm se popularizado cada vez mais.  

Porém, invista em conhecimento antes de colocar o seu dinheiro em algum tipo de investimento arriscado. A educação financeira é extremamente importante para saber usar melhor o seu dinheiro e ter os juros compostos a seu favor.  

Com calma, organização e conhecimento, em pouco tempo você pode ir de um devedor para se tornar um investidor e, assim, ampliar seu patrimônio e garantir melhor qualidade de vida para toda a sua família.  

Confira nosso passo a passo para você começar a sua vida como investidor e dar uma nova guinada em sua vida financeira.

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