O consórcio é um tipo de investimento a longo prazo em um bem. Você escolhe o tipo de bem que deseja - moto, carro, imóveis, veículos pesados ou serviços - e seleciona o valor para a carta de crédito, que equivale ao bem que deseja comprar. Inclusive, é o próprio consorciado que determina a quantidade de parcelas, sempre levando em consideração seus rendimentos mensais.
Por conta de tudo isso, o consórcio se apresenta como uma forma flexível de investir em um bem. Com planejamento, você pode realizar qualquer tipo de sonho, sem precisar se endividar, ter que pagar um alto valor de mensalidade ou mesmo qualquer tipo de juros, como acontece com o financiamento, por exemplo.
Exatamente por ser um tipo de investimento a longo prazo, pode acontecer de algumas pessoas desistirem no meio do caminho. Os motivos são diversos: instabilidade financeira, mudança de planos ou até mesmo por conta de algum tipo de imprevisto que possa ter afetado a família como um todo.
Da mesma forma que o consórcio se diferencia na hora de fechar o contrato de adesão, sua desistência também acaba se resolvendo de forma diferente. A seguir, vamos explicar como funciona a devolução de dinheiro no consórcio, para que você leve em consideração. E iremos apresentar, também, formas alternativas de evitar que isso aconteça.
Desistência de consórcio: como funciona
Como já dissemos, existem diversos motivos que podem levar o consorciado a desistir de seu consórcio.
Independente da forma, é importante ressaltar que o consórcio é um tipo de compra em que a contribuição de cada um é determinante para possibilitar as contemplações.
Quando você se torna um consorciado, entra em um grupo, que possui outros consorciados com interesses semelhantes ao seu. As mensalidades de cada integrante vão para o fundo comum do grupo, responsável pelas contemplações da carta de crédito.
Ou seja, quando você paga sua mensalidade, contribui para o funcionamento do sistema de consórcio.
Para que isso aconteça, a administradora deixa bem claro no contrato que qualquer tipo de desistência representa uma quebra desse acordo. Afinal, a desistência gera um risco para os demais consorciados: quando uma pessoa deixa de pagar gera impacto no fundo comum, que permite as contemplações de todas as cartas de crédito dos integrantes do grupo.
A fim de impedir que as desistências ou até mesmo a inadimplência - quando um consorciado deixa de pagar por uma ou mais parcelas, por exemplo - comprometa os integrantes, é cobrado um percentual de fundo de reserva. Se o grupo tiver um bom funcionamento, com poucos casos de inadimplência e de desistência, o valor do fundo de reserva é devolvido ao final para todos os integrantes do grupo.
Por mais que o valor de fundo de reserva ajude a dar sustentação ao fundo comum em casos de inadimplência e desistência, ainda assim seria insuficiente caso uma grande quantidade de integrantes opte pela desistência. É por isso que, com apoio do Banco Central do Brasil (Bacen), que regula o setor, as administradoras encaram a desistência como uma quebra de contrato.
E, como é comum em casos de quebra de contrato, uma multa é cobrada para os consorciados desistentes. Essa multa representa um percentual da carta de crédito, e pode levar em consideração regras específicas do grupo.
Portanto, se você deseja desistir do consórcio, precisa ter ciência de que será cobrado um valor por essa desistência.
Mas, como funciona o recebimento do dinheiro nesses casos? Vamos explicar a seguir.
Como receber o dinheiro de volta no consórcio?
Ao optar pela desistência do consórcio, você pode, sim, receber o dinheiro de volta - depois de descontado o valor da multa.
Porém, isso não acontece de forma imediata. Da mesma forma que é necessário acompanhar as assembleias para a contemplação dos bens, as cotas dos desistentes também ficam passivas aos sorteios das assembleias.
Funciona da seguinte forma: se você entra com a possibilidade de desistir, a multa é descontada e o valor disponível também entra como se fosse uma carta de crédito a ser devolvida. Só que, em vez de utilizar para o bem que havia selecionado, ao ser contemplado com a cota cancelada o valor integral é depositado na conta do proprietário da cota.
Para isso, é importante acompanhar as assembleias e identificar os sorteios das cotas canceladas.
Assim como existem os sorteios das cotas e as ofertas de lance, existe o momento dos sorteios das cotas contempladas. Se este for o seu caso, fique atento na Área de Clientes para ver se você foi contemplado com a cota cancelada.
Vale lembrar que essa medida de sortear a cota cancelada possui autorização do Bacen - que antes condicionava a entrega das cotas canceladas somente com o encerramento dos grupos. Dessa forma, os desistentes podem receber mais rápido os valores que haviam investido em sua cota.
Se você for contemplado com a sua cota cancelada, basta seguir as diretrizes da administradora, confirmar seus dados pessoais e solicitar a transferência do valor para a sua conta.
Para evitar qualquer tipo de prejuízo com o consórcio, você pode buscar outras formas de lidar com a sua cota. Vamos mostrar as opções a seguir.
Quais são as opções para evitar o cancelamento da cota?
Muitas vezes o fator emergência pode fazer com que as pessoas busquem, de qualquer forma, o cancelamento da cota. Porém, como explicamos, esse processo fica condicionado ao sorteio na assembleia, o que pode ser mais demorado do que o previsto.
Para que você evite qualquer tipo de prejuízo por conta de mudança de planos em relação ao seu consórcio, vamos mostrar algumas opções que podem ser consideradas em relação à sua cota.
Transferência de cota
Uma das opções viáveis para não sofrer prejuízo com a sua cota é tentar a transferência para outra pessoa.
Neste caso, a administradora indica que o interessado por desfazer de sua cota indique um familiar ou uma pessoa conhecida, para seguir com a transferência.
Para muitas pessoas, pode ser interessante adquirir uma cota em andamento. Em casos de cotas não contempladas, de certa forma a compra de uma cota em andamento representa um ‘atalho’ para a contemplação da carta de crédito.
Você pode negociar o valor de venda da sua cota. Porém, a administradora intermedia todo esse processo, para garantir a transparência de ambas as partes.
Para isso, é cobrado um valor do antigo proprietário da cota - que pode até cobrar do interessado, se desejar. Quanto ao interessado, precisa apresentar seus documentos pessoais, rendimentos mensais e demais informações solicitadas à administradora, para que seja elegível a se tornar o novo proprietário da cota.
É mais fácil tentar negociar uma cota não contemplada. Como a carta de crédito não foi utilizada, o interessado tem boas chances de ser contemplado em um período de tempo mais rápido - sem contar que pode até aumentar ou diminuir o valor da carta, uma vez que for aprovado pela administradora.
Por isso mesmo, é importante que a transparência aconteça do começo ao fim do processo, para que se torne uma transação vantajosa tanto para o desistente, quanto para o interessado na cota.
Alterar o valor da carta de crédito
Caso o motivo de sua desistência esteja relacionada a dificuldades financeiras, vale a pena conversar com a administradora para tentar reduzir a sua carta de crédito.
Geralmente, ela permite a redução de uma determinada porcentagem da sua carta, dependendo do grupo de consórcio.
Para isso, é avaliada a quantidade de mensalidades que você já pagou e o quanto faltaria. Caso esteja com dificuldade financeira, vale a pena procurar o quanto antes a administradora e não deixar de pagar as mensalidades.
É solicitado comprovante dos seus rendimentos mensais ou até de suas dívidas, dependendo do caso, para que a administradora verifique as melhores opções. Com a diminuição da carta de crédito, o valor da mensalidade pode ficar mais em conta, e você continua investindo na realização do seu sonho.
Se, no futuro, as condições financeiras melhorarem, você pode aumentar o valor da sua carta de crédito. Portanto, converse com todos os integrantes de sua família e faça um levantamento para identificar o melhor valor a ser pago por sua cota. Assim, você tem boas chances de conseguir negociar um bom valor e não ter prejuízo no final.
Como se planejar para pagar o seu consórcio
A fim de evitar que você tenha contratempos com o pagamento da sua cota, vamos trazer algumas dicas importantes para que você mantenha sua saúde financeira enquanto investe no seu sonho.
Atenção ao valor da mensalidade
Ao fazer a simulação do seu consórcio, é importante determinar um valor de mensalidade que realmente caiba em seu bolso.
Como já dissemos, as administradoras exigem que a mensalidade não ultrapasse 30% dos rendimentos mensais do consorciado, para evitar qualquer tipo de inadimplência. Com o simulador, você pode identificar o melhor valor possível para a sua cota, permitindo que os pagamentos sejam realizados de forma saudável em seu planejamento financeiro.
Aproveite a flexibilidade do simulador de consórcio para identificar o melhor valor de parcela. Com o simulador, você já sabe quanto teria que pagar, com o acréscimo das taxas de consórcio - como a taxa de administração, que remunera as empresas de consórcio por todos os serviços realizados, e o fundo de reserva, que impede que a inadimplência afete o fundo comum dos grupos.
Quanto menor o impacto da mensalidade do consórcio em seus rendimentos mensais, maiores são as chances de se ter uma boa experiência com o consórcio. Considere aumentar a quantidade de mensalidades, diminuir a carta de crédito, enfim, verificar as melhores opções para o seu consórcio.
Vale lembrar que a carta de crédito é apenas uma referência para a compra do bem. Ao ser contemplado, você não precisa obrigatoriamente utilizar seu valor integral. Caso queira comprar um bem de valor inferior à carta, pode usar até 10% da cota para despesas burocráticas. E, mesmo se o bem for mais caro que a sua carta de crédito, é possível negociar diretamente com o proprietário a forma de pagar o valor restante.
Organize-se para os reajustes das parcelas
Anualmente, todas as cotas passam por reajustes de parcelas. Essa medida é adotada por todas as administradoras, para que você não perca o poder de compra da sua carta de crédito.
Portanto, se você começou a pagar pelo consórcio em janeiro de 2020, em janeiro de 2021 a sua cota passará por um reajuste, levando em consideração os índices inflacionários. No caso do consórcio de imóveis, por exemplo, é considerado o INCC (Índice Nacional de Custo de Construção). Para as demais categorias, geralmente o indexador é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que define a inflação do país.
Estes indicadores reajustam o valor final da sua carta de crédito. Então, a administradora faz uma nova divisão dos valores, que reflete na mensalidade.
Essa medida é essencial para que o valor da sua carta não fique defasado e impeça a aquisição do bem que você selecionou. Por exemplo, se você tiver selecionado o valor de R$ 50 mil para a compra de um automóvel, ao ser contemplado pode ser que este valor seja insuficiente para adquirir o veículo que você queria. Então, ao ser contemplado, o valor será corrigido, permitindo que você realize o sonho de comprar o modelo que realmente gostaria quando simulou o consórcio.
Para evitar que o reajuste tenha um impacto muito grande em suas contas, o ideal é selecionar um valor de mensalidade que não impacte demais em seu orçamento. Assim, quando houver os reajustes, você não será pego de surpresa e pode continuar pagando por sua cota normalmente.
Monte uma reserva de emergência
Ter uma reserva de emergência é fundamental para a sua saúde financeira. A reserva financeira consiste, geralmente, de um valor guardado e que seja de fácil resgate de seis vezes os seus rendimentos mensais (ou até mais, se preferir).
Para isso, é importante que você se organize financeiramente e mantenha as suas contas em dia. Reserve um percentual do seu salário para compor a sua reserva financeira e guarde em uma conta que seja de fácil retirada posteriormente.
Existem diversas formas de fazer isso: você pode utilizar contas digitais que têm rendimento acima de 100% do CDI, por exemplo, ou até mesmo considerar alguma aplicação - contanto que possa retirar sempre que precisar. Afinal, a reserva de emergência serve para atender momentos bem específicos, como possível perda de renda, doenças graves, entre outros.
Com a reserva de emergência, você pode se organizar para momentos em que considerar o cancelamento da sua cota. Assim, você tem tempo hábil para considerar a transferência de sua cota, por exemplo, e não sair prejudicado por conta de quebra de contrato.
Tente se organizar para o lance
Além de permitir a contemplação de forma mais rápida, com o lance você termina de pagar com antecedência a sua cota. Quando o valor é efetivado, as últimas mensalidades da sua cota são quitadas.
Portanto, tente separar um percentual dos seus rendimentos para uma conta ou uma poupança que permita a formação de um valor para o lance.
Considere o lance embutido
Alguns grupos permitem que os consorciados realizem a oferta de um lance embutido. Com esse tipo de lance, você pode usar um percentual da sua carta de crédito com o objetivo de ser contemplado com antecedência.
A ideia principal dessa modalidade é ajudar os participantes do consórcio a serem contemplados mais rapidamente. Dessa forma, o cotista não precisa necessariamente dispor do dinheiro total do lance. Nesse caso, o crédito antecipado para saldar o débito será oriundo da sua cota e poderá chegar a 25% da cota total, dependendo do que está descrito no contrato.
Assim, se a carta de crédito é de R$ 100 mil, o cliente pode usar R$ 25 mil no seu lance. Ao optar por essa modalidade, porém, o consorciado irá receber uma carta de crédito de R$ 75 mil.
Porém, é preciso observar se o grupo em que está inserido oferece essa possibilidade.
Monte seu planejamento financeiro
Com um bom planejamento financeiro, você pode se precaver de situações difíceis e organizar suas finanças na hora de pagar o seu consórcio.
Por se tratar de um investimento a longo prazo, as administradoras estimulam seus consorciados a manterem suas finanças saudáveis, para que não sejam impactados por conta da economia, por fatores externos ou até mesmo por mudança de emprego.
Uma boa forma de evitar que isso aconteça é ter uma planilha financeira, com organização de todos os gastos e investimentos. Veja o que realmente consome do seu salário e, se necessário, corte algumas despesas superficiais, para que você consiga montar a sua reserva financeira, pagar pelo seu consórcio e até mesmo aplicar um percentual de sua renda.
Para mais dicas sobre finanças pessoais, confira o nosso guia completo para você manter a sua conta no azul e almejar grandes conquistas a curto, médio e longo prazo.